Se tem uma manifestação que sempre costumei acompanhar, no dia 7 de setembro, é o Grito dos Excluídos. Lembro das primeiras edições, belíssimas, com participação de trabalhadores sem terra, sindicalistas, quilombolas, comunidades indígenas. Infelizmente hoje, apesar de extremamente necessária para assinalar posição contra vários retrocessos nas conquistas do país, o Grito dos Excluídos foi mais virtual do que presencial, devido à pandemia do coronavírus. Mesmo assim, houve caminhada nas ruas, mas sem as aglomerações grandes dos anos anteriores. A concentração foi no Parque Treze de Maio e se transformou em protesto contra o Presidente Jair Bolsonaro.
Já o Movimento Conservador, de apoio a Bolsonaro não está em clima de isolamento social e convocou os adeptos para manifestação na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A concentração estava marcada para começar às 11h. Para o excluídos, a data não passou em branco. Mas vem sendo comemorada com cautela desde ontem. No domingo, a Comissão Regional para a Ação Sociotransformadora – Setor Pastoral Social Nordeste 2, organismo da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), fez celebração Inter-religiosa como atividade do 26º Grito dos Excluídos. A cerimônia teve a presença de representantes das comunidades cristã, judaica, muçulmana, indígena, hare krishna, da umbanda e do candomblé. E isso é muito bom. O Brasil é um país laico e também com muito sincretismo religioso. E todas as religiões precisam ser respeitadas.
Em Boa Viagem, apoiadores do Bozó (que faz pouco da pandemia e ainda desrespeita o uso de máscaras e o isolamento social), prometem copiar o modelo e aproveitar a data patriótica para fazer manifestações de apoio ao Presidente Jair Bolsonaro. Mas a passeata militar que tradicionalmente ocorre no Dia da Independência, não ocorreu nessa segunda-feira, 7 de setembro. O verde e amarelo, no entanto, não foram esquecidos, com cerimônia interna no Comando Regional do Exército, que fica no bairro do Curado, Zona Oeste do Recife.
Enquanto isso, já no seu 26º ano consecutivo, o Grito dos Excluídos fez desfile, mas com quantidade de pessoas inferior aos anos anteriores, devido à pandemia. Cautela é bom, e todo mundo gosta. Em 2020, o tema é “vida em primeiro lugar” e o lema “basta de miséria, preconceito e opressão, queremos trabalho, terra, teto e participação!”. Houve atividade religiosa, que começou às 9h com as boas vindas. A abertura foi realizada por Dom Limacêdo Antônio, Bispo Referencial da Comissão Regional Pastoral para a Ação Sociotransformadora. A transmissão do 26º Grito dos Excluídos também será realizada pela página do Facebook da Pastoral Social NE2 (www.facebook.com/pastoralsocialne2) e também pelo Youtube Pastoral Social NE2. A Arquidiocese de Olinda e Recife integra a CNBB N2.
Em Boa Viagem, esperamos que os manifestantes pró Bozó, pelo menos utilizem máscaras. Adoro praia, mas nesse 7 de setembro decidi ficar em casa. Pois a data é tradição de areia cheia, o dia de sol está convidativo mas, em tempos de pandemia, prefiro fugir de grandes aglomerações. E também não tenho intenção nenhuma de me encontrar com essa turma de apoiadores do Bozó porque, sinceramente, não vejo quase nada a comemorar. Abaixo, há alguns links sobre algumas ações de Bozó e sua turma. E também para refrescar a memória sobre a ditadura, tortura e censura que ele diz que nunca existiram. Mas a verdade histórica, todo mundo sabe, não se apaga. E sempre prevalecerá.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife