Paço Alfândega virou shopping fantasma

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Tristeza! Com tanta importância histórica, o Paço Alfândega virou um shopping fantasma. Desapareceram as antes sofisticadas lojas do térreo e do primeiro andar, salão de beleza, cafeteria, esta muito bem frequentada. Também sumiu a Praça de Alimentação, que funcionava no andar superior, e onde muita gente que trabalha no bairro do Recife costumava almoçar ou jantar.  Há alguns dias, lá estive com minha neta Alice, e o que a gente viu foi só desolação. Inclusive com um tapume fechando a entrada mais conhecida, aquela dá para o   Cais da Alfândega, com o Rio Capibaribe sendo observado pela estátua do poeta Ascenso Ferreira. Quando deu 18h, o deserto se formou na via, e nós tivemos até medo de por lá andar, já que no Recife a falta de segurança é um problema que sempre nos obriga a estar  em estado de alerta. Esperamos condução com apreensão e medo.

Quando o Paço Alfândega foi reformado e restaurado pela última vez, já no início desse século 21, ficou lindo por dentro e por fora. Dizia-se que ele ia integrar um complexo comercial e cultural, que incluía o Prédio Chanteclair. Este, até hoje, não teve as obras concluídas e não foi inaugurado. E o primeiro, parece sempre ter vivido em desencontro com o perfil dos frequentadores. As lojas abriam e fechavam com a velocidade de um raio. Algumas poucas aguentaram muito tempo, caso da Refazenda, que depois decidiu optar por se instalar em um casarão, na Praça de Casa Forte, deixando o ponto vazio até hoje. Se o abre e fecha – tirando raras exceções – aconteceu em tempos normais, com a pandemia o que já não estava bem, terminou por afundar.

Junto com a Igreja da Madre Deus, o Paço Alfândega forma um bonito conjunto arquitetônico, à beira do Capibaribe

Entrei no Paço e vi que está tudo praticamente fechado. Restam um bar e um restaurante usando suas instalações. E também a agência da Caixa Econômica Federal. O bar é o Babylon Station. E o restaurante, o Parrillada Steak House. Sendo que o primeiro usa mais a parte externa, colocando mesinhas e cadeiras naquela ruela que fica entre o Paço e o prédio da Livraria Jaqueira (onde funcionava a Livraria Cultura). Já o Parrillada ocupa o andar térreo do Paço. Mas no dia que passei lá, olhei pelas paredes de vidro. Zero gente. O temor é que aquele prédio termine ficando entregue às baratas, como outros tantos que perderam suas funções no Recife. A pergunta é: o que será feito do Paço Alfândega?  O  edifício, que foi originalmente construído no século 18, como se sabe, tem importância histórica e arquitetônica.

Foi inicialmente um convento, da Congregação de Oratorianos, que funcionava ao lado da Igreja da Madre de Deus, relíquia da arquitetura religiosa no Recife. Em 1826, o governo imperial apoderou-se do prédio do convento, e nele instalou a Alfândega de Pernambuco. Então, o antigo  foi demolido para adaptar-se às novas funções, porém aproveitando-se parte de suas instalações, incluindo suas paredes superdimensionadas. No início dos anos 2000, o Paço Alfândega passou por uma grande reforma e virou um centro de compras, lazer, gastronomia, cultura. Porém, pelo menos por enquanto, não é mais nada. Só pedra, cal e história, o que é uma pena, principalmente para o recifense, que vê monumentos históricos quase ruindo, como o antigo prédio do Diário de Pernambuco (na Praça da Independência), a antiga Escola Pinto Júnior (Rua do Riachuelo),  o Cais do Imperador (Rua Martins de Barros, Santo Antônio), o Hospital  Magitot (Praça da Várzea) e o Chalé do Prata (no interior do Parque Estadual de Dois Irmãos).

Fechado, o Paço Alfândega –  um dos atrativos do Bairro do Recife – está de portas fechadas. Quase nada lá funciona

No caso do Paço, enquanto shopping, fazia a linha Classe A, com mercadorias a preços tão proibitivos que afastavam a clientela do setor de moda e confecções. Talvez, por isso, tenha havido tanta instabilidade nos pontos dedicados a esse setor, onde o abre e fecha era grande. Tinha, também, joalharia, restaurantes e lanchonetes, calçados sofisticados, acessórios, perfumaria e um setor fashion com artigos produzidos por designers e estilistas pernambucanos. Seu hall sempre foi usado para exposições, feiras (inclusive de antiguidades), apresentações culturais.

O Paço tem duas entradas: uma pela Rua da Madre de Deus e outra pelo Cais da Alfândega. Nesta, há um calçadão largo (foto na parte superior desse post), que nunca foi bem utilizado. Com tanto espaço, sobraria lugar para pedestre e para mesinhas, com guarda-sóis, onde se poderia passar um bom fim de tarde olhando o rio, saboreando alguma coisa boa. Uma café, um suco, uma cerveja, um quiche, empadinha…. A área comportaria atrações culturais: serestas, voz e violão,  violino. Mas, ao que parece, nunca ninguém fez nada disso. A paisagem do Rio, como é comum no Recife, permaneceu ignorada. É como se não existisse.

Abaixo, você confere  informações sobre  outros prédios históricos da cidade,  alguns em ruínas. Não é o caso do Paço Alfândega, que é tombado e está conservado. Mas… até quando?

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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