A gente passa, sempre, na maior correria, pela Rua Imperador Pedro II, que o recifense costuma chamar apenas de Rua do Imperador. E nem se dá conta de um prédio cinza, em estilo eclético, que fica na esquina daquela via com a Primeiro de Março. Até o século passado, funcionava no térreo uma lanchonete famosa, a Cristal. Que felizmente fechou as portas, depois de passar anos emporcalhando a calçada, com bagaço de cana.
E o descarte indevido era tanto, que quando foi prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos foi lá pessoalmente, duas vezes, reclamar da imundície. Hoje a Cristal não mais funciona. Mas o prédio cinza tem uma faixa vermelha, que destoa por completo de sua arquitetura. Fato, aliás, muito comum no Recife, onde o nosso patrimônio arquitetônico não é valorizado. Pior, é – muitas vezes – descaracterizado e até violentado. Pois bem, no lugar onde fica hoje esse prédio cinza com a faixa vermelha, foi edificada a primeira residência do Conde Maurício de Nassau, embora a construção original não exista mais.
E não só isso. Naquela que hoje é a esquina da Imperador com Primeiro de Março, no século 17 “foram realizadas as primeiras observações astronômicas e científicas do Hemisfério Sul e das Américas”, segundo placa colocada pela na edificação, em frente da qual fizemos uma pausa nesse domingo, durante o percurso das Caminhadas Domingueiras, com grupo comandado por Francisco Cunha.
No local, o naturalista, médico, cartógrafo, astrônomo alemão e oficial do Príncipe de Nassau em Pernambuco, George Marcgrave “construiu o Observatório”. Ali, “realizou observações e também utilizou pela primeira vez a luneta (tubus) para fins astronômicos no Novo Mundo, em 1640”. Quando o Brasil completou 500 anos, a Sociedade Astronômica do Recife, a Câmara Municipal e a Prefeitura decidiram colocar a placa no prédio, indicando “o primeiro observatório astronômico do Hemisfério Sul e das Américas”. Um pouco antes, havíamos passado pela Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, onde era a Sinagoga Kahal Zur Israel, que vem a ser a primeira implantada nas Américas. No prédio, funciona hoje o Centro Judaico de Pernambuco. É, um pouquinho de História não faz mal a ninguém.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife