Obra no Dona Lindu: temor de atentado estético e riscos a prédios vizinhos

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Polêmico desde o início pelo excesso de concreto e porque até hoje não se sabe quantos coqueiros foram erradicados da última área verde à beira-mar na praia de Boa Viagem (nem como foi feita a compensação) – o Parque Dona Lindu volta a ser alvo de controvérsias. Dessa vez a gritaria vem por conta de obra dupla anunciada pela Prefeitura, que pretende construir ali um reservatório subterrâneo (de aproximadamente 10 x 7 metros) além de uma caixa d’ água suspensa (de mais de 20 metros de altura). Moradores do entorno reclamam do atentado estético contra a obra de Oscar Niemeyer (1907-2012) – autor do projeto arquitetônico do parque – assim como das consequências que as duas obras possam trazer para a estrutura de prédios da vizinhança e segurança dos moradores.

Condôminos do Edifício Taormina, por exemplo, já acionaram o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para exigir que a Prefeitura apresente estudos técnicos que comprovem a viabilidade e segurança da instalação do reservatório e da caixa d’ água no estacionamento do Dona Lindu e em área contígua ao prédio. O caso está sendo analisado na 35ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital (Habitação e Urbanismo). O Taormina fica na Rua Setúbal. E as informações repassadas aos moradores no canteiro de obras revelam aquelas dimensões, que  tanto preocupam os vizinhos do Parque. Eles alegam que faltam estudos de impacto decorrentes das duas obras e pedem à Prefeitura que os apresentem.

“Essa obra de grande porte e impacto pode comprometer a segurança do edifício e desvirtuar a proposta arquitetônica do Dona Lindu, um dos últimos projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer”, afirmam os moradores do Taormina. Tem mais: “ O reservatório e caixa d’água também limitam a área de circulação dos frequentadores do Parque e reduzem significativamente o seu já limitado estacionamento, além de cartão postal da cidade, abriga grandes eventos”. Para os signatários da ação no MPPE,  as fundações do prédio podem ser afetadas pela escavação do reservatório subterrâneo e pelas cargas adicionais impostas pela caixa d’água suspensa. Não é novidade para ninguém, que os geólogos comparam Boa Viagem a uma “tábua de pirulitos”, devido à proliferação de poços perfurados por condomínios, por conta da irregularidade no abastecimento do bairro. Ou seja, motivo para preocupação  tem de sobra.

“Existe ainda o risco de fissuras e danos nas estruturas do prédio decorrentes do próprio processo de construção. Tais riscos necessitam de uma avaliação técnica detalhada e estudos de impacto estruturais, que até o momento não foram apresentados pela Prefeitura, o que aumenta as preocupações da comunidade”, argumenta a síndica do edifício, Candice Heimann. Ela cobra, também, um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). Desde que a empresa responsável pela obra isolou a área da construção já houve um impacto significativo na circulação de carros da Rua Setúbal, via que ficou sem saída, desde a construção do Dona Lindu, e cujo ponto de retorno é justamente no perímetro demarcado.

Como o estacionamento foi reduzido, os carros agora estacionam em fila dupla e em área proibida, complicando o trânsito na rua e arredores. Os moradores do Taormina temem ainda os riscos inerentes e impostos pela proximidade de uma obra desse porte e natureza de um prédio residencial e de uma área densamente ocupada. “Há pouco mais de um ano, em setembro de 2023, uma caixa d’água de um supermercado caiu sobre o muro de um prédio no bairro do Parnamirim, Zona Norte do Recife, provocando graves prejuízos materiais”. Moradores do entorno do Parque Dona Lindu dizem, ainda que obra da Prefeitura ameaça árvores de grande porte, que foram poupadas quando da construção do Dona Lindu devido à mobilização dos moradores que fizeram uma campanha do tipo “parem de derrubar árvores”, depois que acabaram com quase todos os coqueiros da área.  E as que restaram no antigo coqueiral são poucas, como se pode observar na foto superior. Muito, mas muito poucas mesmo, para o que seria uma área “verde”.

Segundo a Prefeitura do Recife, o reservatório e a caixa d’água devem abastecer os quiosques e banheiros da orla de Boa Viagem. “Todos reconhecemos a necessidade de abastecimento da orla, mas nem sempre a solução mais fácil é a melhor solução, e nem mesmo a única solução”, completa a síndica Candice Heimann. A Prefeitura já andou se pronunciando, informando que não há riscos, mas os moradores do Taormina preferem uma intervenção do MPPE. Lembram, ainda, que o próprio edifício é  expressão arquitetônica importante da cidade, pois foi projetado por Jorge Martins Júnior, responsável pelo projeto do edifício-sede da Prefeitura do Recife. “Ele é um dos nomes destacados da arquitetura modernista dos anos 70/80 na capital”.

Os moradores do Taormina temem ainda os riscos inerentes e impostos pela proximidade de uma obra desse porte e natureza de um prédio residencial e de uma área densamente ocupada. Há pouco mais de um ano, em setembro de 2023, uma caixa d’água de um supermercado caiu sobre o muro de um prédio no bairro do Parnamirim, Zona Norte do Recife, provocando graves prejuízos materiais (ver no primeiro link abaixo).

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Moradores de Boa Viagem / Divulgação

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One comment

  1. Só do impacto visual, um mostrengo desses, perto de uma obra de Oscar Niemeyer, já era motivo suficiente pata o embargo da obra. Colocar em risco toda uma área vizinha, é um absurdo. Sem contar com o impacto no trânsito e estacionamento. Paaara Já

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