O talismã de cristal

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Eu só ando de colete, porque perco tudo que levo nas mãos. Pode ser dinheiro, celular, agenda, caneta. Nos bolsos, guardo tudo. Pois hoje fui providenciar alguns documentos, e como era muita coisa, botei em uma bolsa que levava nas mãos. Não é que perdi a dita cuja… Caiu no meio do caminho, enquanto eu fazia uma fotografia de um canteiro. Mas na minha vida, há uma tradição engraçada. Tudo que eu perco, eu acho. Ou retorna para mim. Pois pensei assim: vou fazer o caminho de volta. Devo encontrar a bolsinha de pano pelo chão.

Quando passava em frente a uma loja de artigos femininos, na Avenida 17 de Agosto, ouvi uma voz.” Moça, moça”. Achei que fosse com outra pessoa. De repente, me chega um rapaz, correndo, e diz: “ Senhora, sua bolsa caiu na calçada”. E eu respondi: “Estava mesmo procurando, caso não ache, terei que providenciar  tantos documentos”. E ele me falou. “Eu peguei, e guardei”. Pronto, tudo resolvido. O anjo da guarda chama-se Rafael Silva, o rapaz daí da foto. Esta semana, o rapaz devolveu a bolsa a um motoqueiro, que passou na avenida e não viu quando o objeto caiu. “Ele disse que se não tivesse achado, perderia o emprego”, conforta-se Rafael.

Já deixei gravador, sombrinha, livro, em táxis. Todos voltaram para mim. Nos Estados Unidos, deixei uma pasta com passaporte em uma cadeira no Aeroporto de Orlando. Achei. Perdi, uma vez, um anel no mar. Pisei nele logo em seguida. De outra, deixei no banco uma caixinha com cartões pessoais. Um homem achou e ia levar para casa, para entregar ao gerente. Mas eu vi a bolsinha na mão do homem, quando voltava da caminhada. E pelo meu olhar na mão dele, o cara percebeu que era minha. Devolveu. Mas a história mais emblemática foi na minha infância. Meu pai trouxe de Paris um broche que era uma libélula de cristal. Eu tinha muito afeto pelo objeto. Um dia, uma pedrinha de sua cauda sumiu. Duas semanas depois, o jardineiro revolvia a terra do jardim de minha  falecida avó, quando vi uma coisa brilhar. Deixe-me ver o que é isso, pedi. Era o cristal que faltava. Consertei o broche e nunca mais usei. Virou um talismã  para os achados  de todas as coisas perdidas.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife

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