O revoltante “apagão” do fim de semana. Sem luz, povo protesta em Carpina

É incrível, mas acontece. Em pleno século 21, o Recife teve locais neste final de semana cujos moradores ficaram até três dias sem energia elétrica. No meu bairro, Apipucos, foram 24 horas. A antiga Celpe, atual Neonergia, culpa as chuvas. E quando o inverno chegar, como será? A julgar pelo que aconteceu hoje de manhã, o problema é bem mais amplo. Pois moradores da comunidade Esperança, de Carpina, bloquearam a BR-408 nessa quarta-feira, para exigir que a empresa restabeleça o fornecimento de luz. Eles cansaram de tanto breu.

O bloqueio só terminou com a chegada de equipes da Polícia Rodoviária Federal e da PM  ao quilômetro 66 daquela rodovia. Carpina fica a  56 quilômetros do Recife, capital onde no final de semana pelo menos 150 mil pessoas ficaram sem luz, de acordo com a própria Neonergia. Não é pouca gente. A situação nos remete ao ditado popular: “Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”, sem que saibamos o que é melhor, privatizar ou manter no serviço público empresas como a Celpe e a Compesa. A Celpe já foi privatizada. Não tem mais jeito. A Compesa, ainda não, mas foi alvo de uma PPP (parceria público privada), que eu nada resolveu o problema de saneamento básico  da nossa Região Metropolitana. Pelo contrário, os prazos foram dilatados.

Esta cena, vazamento em canos da Compesa, tornou-se comum no Recife. E saneamento que é bom… nada.

É que pela PPP, o serviço de esgotamento sanitário estaria praticamente universalizado em 2025, quando 90 por cento dos domicílios da Região Metropolitana já teriam acesso a saneamento básico. No entanto, esse prazo foi dilatado para 2037.  Acreditam? Quando a PPP foi firmada, com muito estardalhaço – na época a maior do país – também foi prometido que nenhum esgoto ficaria estourado nas ruas por mais de 24 horas. Alguém viu essa promessa se cumprir?  Nem é preciso estatística. Basta andar nas ruas, para se ver o tamanho do descalabro.

Na questão da luz elétrica, a amplitude do serviço é diferente. O fornecimento de energia é praticamente universalizado em Pernambuco, esforço  que – justiça seja feita – começou ainda no Governo do saudoso Miguel Arraes (PSB), quando a Celpe nem privatizada era. Agora, infelizmente, a Neonergia deu um exemplo de total descuido com seus usuários. Sem luz no final de semana, tentei por mais de 50 minutos fazer o registro da reclamação. A atendente artificial mandava fazer a reclamação depois de baixar aplicativo, ou no site da empresa. Como, se não havia energia? Como, se não tinha como carregar o celular, depois de doze horas sem luz, e mais quase uma hora gastando a bateria para tentar inutilmente falar com a Celpe? A luz se foi na sexta. Primeiro, chegaria às 22h. Depois, às sete do dia seguinte, o domingo. Depois, 18h, segundo informações dos vizinhos, que ainda tinham bateria no celular, para conseguir alguma comunicação. No fim, chegou por volta de 20h do domingo.

Não lembro de nenhum apagão superior a 24 horas no bairro onde resido há quase quatro décadas. Caos… A única coisa boa foi que, sem energia, não tinha poluição sonora, som alto, festa, por aqui por perto, já que ninguém controla excesso de som no Recife, e os abusos estão em todos os lugares. No meu bairro, claro, não é diferente. Barulho em excesso, infelizmente, tem em todo canto. Voltando ao assunto luz, no noticiário da segunda e da terça-feira, vi que tinha gente em situação de apagão ainda pior do que a registrada no meu bairro. No vizinho município de Paulista, houve localidades onde a energia sumiu por três dias. Sinceramente, pagamos contas com valores altíssimos – exorbitantes  até – e merecemos um bom serviço e não passarmos três dias no escuro. Quem, finalmente, vai arcar com os prejuízos de eletrodomésticos queimados e de feiras e mercadorias perdidas? Cadê a Aneel?  Com a palavra, os órgãos de defesa do consumidor e a própria Celpe.

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Riacho Parnamirim ainda tem jeito

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: PRF (Divulgação) e Letícia Lins / Acervo #OxeRecife

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