Foi muito divertida edição do último sábado do Mesa de Bar, capitaneado pelo radialista Wagner Gomes. Como, aliás, sempre é, porque o programa de rádio foge do padrão convencional. Não é uma entrevista, mas sim um bate-papo com vários convidados. O assunto: encantos e desencantos do Recife. Como a nossa cidade é a prioridade número um do #OxeRecife, estive lá acompanhando de perto o pessoal. Foram reunidos quatro fotógrafos que costumam documentar a cidade, mas que se defrontam com empecilhos que vão da poluição visual a mudanças operadas pelo poder público que terminam “roubando” o charme de algumas localidades, como a Ponte 6 de Março (a chamada Ponte Velha) e a Ponte Duarte Coelho, ambas já aqui abordadas.
Três fotógrafos profissionais – Hans Von Manteuffel (alemão), Gisele Carvallo (venezuelana), e Bruno Recifense (brasileiro) – participaram do encontro. E também dois amadores: o Juiz Federal Francisco de Barros e Silva; e o urbanista, arquiteto e consultor, Francisco Cunha. Em comum, além de serem amadores e do uso de telefones celulares para documentar a cidade, os dois Franciscos têm belíssimos livros publicados com fotos do Recife. No caso do primeiro, mostrando belezas que ele redescobriu quando decidiu deixar o carro em casa e fazer a pé os seus roteiros. No do segundo, a preocupação é um pouco diferente: mostrar “o Recife que se esconde”, através de fotos de detalhes que vão de portões, arabescos de prédios, brasões, azulejos, estátuas,torres de igrejas. Essa preocupação de Barros e Silva rendeu um livro encantador: Recife: Arruar, infelizmente de edição limitada com a qual ele presenteou os amigos.
Os fotógrafos reclamaram da poluição visual provocada pelos novelos de fiação aérea, que está em todos os lugares. Até sobre as pontes do centro. Hans queixou-se da cor branca da iluminação de LED que, segundo ele, “mata a luz de qualquer fotografia” noturna. Bruno Recifense considera o Recife “uma das cidades mais lindas do mundo”, com “encantos mil”, mas queixou-se, também, de algumas intervenções.
Todas para pior, promovidas pelo poder público. Recentemente ele acusou a retirada de 22 braços com lampiões em estilo colonial, da Ponte Velha, reclamação que, aliás, já tinha sido feita também aqui no #OxeRecife. A iniciativa revoltou alguns fãs da cidade e chegou a ser levada até à Ouvidoria da Cidade pelo advogado Ubirajara Lopes Carvalho, do Grupo Amantes do Recife, que deu uma desculpa esfarrapada e sem sentido para o caso.
“Deixaram cada poste com apenas três lampiões. Antes eram quatro, mas fiz pesquisas em fotos mais antigas e percebi que a perda é ainda maior, pois originalmente eram cinco lampiões por poste”, lembra Bruno. Nessa “brincadeira”, quem perde é a cidade, não é não? O urbanista Francisco Cunha, lembra que passou 25 anos se locomovendo de carro, porém quando decidiu andar a pé para ver a cidade melhor teve uma desagradável surpresa: “Tinha mudado para pior”. E lembrou: “É realmente uma cidade belíssima, fotogênica que, porém, se esconde. E é preciso recuperar essa beleza. No Recife, em cada esquina há uma história”. No fim, a convidada especial, Cristina Amaral, brindou os entrevistados com “Pelas ruas que andei”, de Alceu Valença que, claro, fala tanto na nossa cidade. E no lado poético de ruas e bairros: Madalena, Boa Vista, Rua do Sol, Rua da Matriz, Rua da Aurora, Rua da Soledade, Rua do Benfica. Rua da Saudade. Saudade, quem sabe, do que o Recife era.
Cristina Amaral canta “Pelas ruas que andei”, de Alceu Valença: canja.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Hans Von Manteuffel, Gisele Carvallo, Francisco de Barros e Silva e Letícia Lins (pela ordem)