Vergonha para o Brasil o discurso feito pelo Presidente Jair Bolsonaro na cerimônia de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Falar em “tolerância zero” do governo para o crime ambiental no nosso país soa, no mínimo, como uma grande falsidade. Pois a “Pátria amada” vive, talvez, o maior descaso ambiental de sua história. Situação que já se transformou em descalabro e chama atenção da opinião pública não só do país mas do mundo todo. Aí, o Bozó vai para a ONU e ainda bota a culpa pelos incêndios da Amazônia “no índio e no caboclo”. Sinceramente, me perdoem a expressão, mas é muita cara de pau.
E ainda diz que o Brasil “sofre uma das campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”. Como se não houvesse quase 6 mil focos de incêndio no Pantanal e como se a maior floresta tropical do mundo não estivesse em chamas e nem vítima de desmatamento 60 por cento maior em agosto de 2020 do que o registrado em igual período do ano passado. Ou seja, quer fazer entender que é fake o noticiário sobre o drama vivido pelas duas regiões, que padecem das consequências provenientes do desmonte de todo o aparato legal e institucional de proteção ao meio ambiente no país. Mas não adianta tapar o sol (ou melhor, o fogo) com a peneira.
E o leque de medidas que desmentem a fala presidencial é imenso: vai do relaxamento da fiscalização à perseguição de fiscais de órgãos do próprio governo, que cumprem com suas obrigações. Também há tolerância cem e não tolerância zero, à ação criminosa de grileiros, fazendeiros, garimpeiros. Servidores do setor reclamam processos administrativos sigilosos viraram rotina em órgãos como o Ibama. Deve ser para deixar a “boiada” do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles passar. O arcabouço legal – que prevê destruição de máquinas de propriedade de responsáveis pelos desmatamentos ilegais – é desrespeitado institucionalmente. E o Bozó já teve o desplante de dizer que era preciso “acabar com a indústria de multas” na área ambiental do país.
Não é à toa, portanto que as sanções aplicadas pelo Ibama contra aquele tipo de gente tenha caído 60 por cento em um ano. Como também não surpreende que o famigerado Bozó tenha virado alvo de chargistas em quase todo o mundo. Como esta, atribuída à imprensa portuguesa, onde o Presidente aparece com uma motosserra na mão e um revólver na outra. Só faltou a caixa de fósforo, para tocar fogo em tudo. Recentemente a Associação Nacional de Servidores do Meio Ambiente divulgou um documento Cronologia de um Desastre Anunciado, no qual enumera mais de 150 golpes praticados pela gestão de Bozó contra o meio ambiente no Brasil. É um documento muito sério, sem blablablá, que enumera os “pontos fundamentais que demonstram a narrativa de destruição e o repetido desrespeito ao arcabouço legal levados a cabo pelo Presidente Jair Bolsonaro”. Entre portarias, falas de Bolsonaro e perseguição a funcionários que fazem o dever de casa, o documento da Ascema nos ajuda a entender a razão do desastre ambiental em que o país está mergulhado. Parem de derrubar árvores!. À medida que o arboricídio institucionalizado aumenta, o pulmão do mundo – e o seu, o meu, o nosso – sofre um golpe.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Internet / Greenpeace/ Divulgação