É uma pena o que está acontecendo em Apipucos, um dos locais históricos e pitorescos do Recife, e no qual eu resido há mais de três décadas. Tenho um amor grande por esse lugar, pela sua gente, pelo que lhe resta de verde, pela sua igrejinha, a de Nossa Senhora das Dores, que fica no alto de uma encosta. E que já existia desde o século 17. Fico imaginando como o bairro devia ser no passado, onde as margens do Rio Capibaribe eram usadas para encontros e chás de fim de tarde, como relata o escritor Gilberto Freyre em Apipucos, o que há num nome, a respeito do bairro que ele escolheu para morar, embora conhecesse o mundo.
E que ele definia como rurbano, uma mistura de rural e urbano, pelas suas vacarias, olarias, passeios de barco, verde sobrando. Hoje, ele fica cada vez mais urbano, embora ainda sejam encontrados bichos pastando na sua principal praça (cavalos) e as capivaras dêm, vez por outra, o ar da graça na beira do Açude de Apipucos ou às margens do Capibaribe. Apesar da especulação imobiliária e da poluição, os roedores – antes tão típicos do Recife – ainda são vistos, principalmente pela população ribeirinha.
Mas é muito triste observar alguns descuidos na preservação do bairro da Zona Norte, por parte dos próprios moradores. A encosta na subida da ladeira da secular Igreja de Nossa Senhora das Dores está praticamente sem cobertura vegetal, o que pode acarretar o risco de erosão e até deslizamento. Isso porque há quem esteja despejando metralhas e mais metralhas no local. Penso que é necessária fiscalização maior do poder público, com aplicação de multas devidas, para que a população tome jeito. Em caso contrário, o bairro vai virar Casa da Mãe Joana. E também Apipucos.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife