Lixo retirado de canais é 20 por cento do total coletado no Recife

Dá uma tristeza, se assistir a cenas como a da foto acima. Nossos canais virando esgoto a céu aberto e, principalmente, lixão. Só em 2021, a Prefeitura já retirou 35 mil toneladas de detritos dos canais que cortam a cidade. Temos 99 canais que um dia foram rios e riachos, que serviam não só para o lazer da população como até mesmo para pescaria e matar a fome de muitas famílias. No início do século, eram utilizados por lavadeiras para lavagem de roupa. Hoje, a água deles não serve mais para nada. É, quase sempre, uma lama fétida e escura. Pois recebem dejetos de boa parte da cidade, já que pouco mais de 30 por cento da população do Recife conta com serviço de saneamento.

Como se isso não bastasse, a própria população descarta seu lixo – latas, garrafas, plásticos, bichos mortos – nos canais. Segundo a Prefeitura do Recife, o lixo retirado dos canais responde por 20 por cento do total recolhido pela Emlurb  em 2021. Ou seja, um horror. Pior ainda quando chove, porque com o excesso de lixo, a água não escoa. “Sem a compreensão e empenho da população, entretanto, os esforços se mostram insuficientes para garantir o escoamento das águas em períodos chuvosos”, afirma a Prefeitura.  Nas últimas chuvas, comunidades como Dois Unidos e Linha do Tiro sofreram com as inundações, boa parte provocada pelo excesso de lixo que hoje é um canal, mas que no passado era o antigo Rio Morno, que fica entre as duas localidades.

Situação do Canal do Arruda é de fazer chorar. A limpeza é feita, depois a sujeira toma conta de novo.

Na segunda, o Prefeito João Campos (PSB) esteve às margens do antigo Rio Morno para vistoriar a ação de limpeza que, segundo ele, já foi feita em 34 canais e vem sendo realizada em onze outros. Limpar está correto, é preciso. Mas se não houver educação ambiental nas comunidades do entorno e mudanças no sistema de coleta de lixo, vai ficar tudo do mesmo jeito. Infelizmente. Porque todos os anos, a situação se repete. E se gasta o mesmo dinheiro  para limpar a mesma sujeira.

No Rio Morno, por exemplo, será atendido um trecho de cerca de quatro quilômetros, com previsão de remoção de cerca de 6 mil toneladas de resíduos. O investimento é de R$ 250 mil. A intervenção faz parte da Ação Inverno 2021, que envolve o trabalho de diversas Secretarias e Órgãos com foco na manutenção, prevenção e redução de danos na cidade para o período de chuvas. Os serviços vêm sendo realizados pela Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), responsável pela limpeza dos 99 canais do município, operação que recebe investimentos anuais da ordem de R$ 7 milhões.

Além dos danos causados à mobilidade da população, o descarte incorreto também afeta a fauna, a flora e até leva riscos ao mar.  Hoje praticamente não acha peixes nem crustáceos nesses ex rios e ex riachos do Recife.  Boa parte dos materiais é composta por plástico, que leva centenas de anos para se decompor, tornando-se ameaça à fauna marinha. Grande parte de tartarugas que aparece mortas nas praias, por exemplo,  apresentam plásticos no aparelho digestivo.  Atualmente, encontram-se em limpeza, o Córrego da Areia (Nova Descoberta); Rio Morno (Guabiraba); do Sambra/Nossa Senhora de Fátima (Jardim São Paulo); Guarulhos (Jardim São Paulo); Jardim Terezópolis (Várzea); da Malária com trecho Dancing Days (Ipsep); Três Carneiros/Monte Verde (Cohab); Travessa Realeza; Córrego do Deodato; Ary Peter; e Rio Morno.

Nos links abaixo, você pode conferir outras informações sobre os canais, que um dia foram rios ou richos.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Marcos Pastich/ Divulgação / PCR

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