A ideia não chega a ser original. Antes, outros clássicos da literatura pernambucana já foram adaptados para o formato de quadrinhos. Inclusive o clássico dos clássicos, Casa Grande e Senzala. Agora, outro livro de Gilberto Freyre (1900-1987) é lançado também em HQ. Tudo para atrair jovens leitores, e despertar neles o interesse pela importância do também autor de Sociologia, Sobrados e Mucambos e Nordeste. Pois é justamente devido a esse título, que será lançado na tarde dessa quarta-feira (7/12), Nordeste, uma visão em quadrinhos da Civilização do Açúcar.
Na verdade, o título do livro original é bem mais longo: Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil. A obra, uma das poucas do autor que não consta na minha biblioteca particular (o que é uma falha), foi lançada em 1937. E segundo o responsável pela coordenação do trabalho de adaptação livro, jornalista Roberto Beltrão, Nordeste é uma das mais ousadas obras do autor pernambucano. “O livro fala, já naquela época, de meio ambiente, um assunto que não estava em pauta”, diz ele. No entanto, a publicação de Freyre trata o Nordeste de forma até meio romântica e bem diferente do estigma realista da fome que caracteriza a região na obra de outros autores, como Josué de Castro (Geografia da Fome) e o próprio João Cabral de Melo Neto, em Vida e Morte Severina. Em Nordeste, Freyre a descreve como “região de fartura e águas abundantes”, quando se sabe que no Sertão, a situação é bem diferente. E que a fartura da cana, na realidade, enriqueceu apenas os usineiros, criando uma multidão de famintos e subnutridos na Zona da Mata não só de Pernambuco, como também dos outros estados com a economia baseada na agroindústria açucareira.

Além de Roberto Beltrão, também trabalhou na adaptação, André Balaio. Sendo que as ilustrações são de Luciano Félix. O lançamento ocorre a partir das 17h, na Fundação Gilberto Freyre, que funciona na antiga residência da família Freyre, hoje transformada em uma espécie de memorial em homenagem ao também autor de Oh! de Casa; Assombrações do Recife Velho; e Modos de Homem, Modos de Mulher. O evento é aberto ao público. Um dos objetivos da iniciativa é “rejuvenescer” a obra de Freyre, aumentando-lhe a visibilidade ao mesmo tempo que se lança mão de linguagem mais moderna.
No começo do século 20, o autor já falava em temas que estão em pauta no século 21. Entre eles: devastação da mata, poluição dos cursos d´água, a falta de cuidado na preservação da fauna e da flora, além da indisponibilidade de terras para produção de alimentos. Agora, um aviso, que é – também – uma pena: a publicação não será comercializada. Será distribuída gratuitamente a entidades e profissionais de engenharia e agronomia, e geociências; também a órgãos públicos federais, estaduais e municipais de Pernambuco; e a bibliotecas universitárias de escolas de engenharia assim como aquelas das escolas públicas do estado. O projeto tem o patrocínio do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás).
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Ilustração de Luciano Félix/ Divulgação