Tem muitas gente de alma linda nesse meio de mundo. Vejam só essa frase: “Me senti como um beija-flor apagando um incêndio na floresta, mas certo de que fiz a minha parte. Os animais têm que viver livres. Você já imaginou: o passarinho, ao invés de buscar seu alimento nas matas, ficar esperando, em cativeiro, que alguém decida a hora e o que ele deve comer?” Foi pensando assim, que o comerciante Paulo Pedro da Silva, 48 anos, resolveu comprar uma iguana que era levada por um adolescente, no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife. O animal estava amarrado com um cordão de nylon e seu destino certo era o cativeiro. Paulo Pedro comprou a iguana, mas o fez para libertá-la.
Ele disse que tomou a iniciativa, ao lembrar a emoção que sentiu, ao assistir uma cena na televisão há alguns meses: populares tentando salvar uma baleia, que encalhara em uma praia do Rio de Janeiro. O comerciante mora na Guabiraba, onde fica o Cetas Tangara, que é o Centro de Triagem de Animais Silvestres da Agência Estadual de Meio Ambiente (Cprh). Mas como não tinha essa informação, veio ao bairro de Casa Forte, trazer a iguana, para entregar à Cprh. Ele a julgava grávida, porque a fêmea estava bem roliça. Mas os répteis se reproduzem por ovos. E a iguana estava “gorda” mesmo, ou seja, ovada, o que a torna mais lenta e vulnerável a armadilhas.
Paulo Pedro, 48 anos, cruzou com um adolescente conduzindo o animal, perto do Centro de Treinamento do Náutico. “O menino me disse que pretendia vender a iguana por R$ 15 para alguém que quisesse criá-la. Ofereci R$ 10 para salvá-la do cativeiro. Ele terminou aceitando e eu vim deixar o animal”, resumiu Paulo Pedro, ao fazer a entrega voluntária à Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH), em Casa Forte, no final da manhã da terça-feira. “Os animais devem viver livres”, disse. Ficou ainda mais motivado para a entrega, ao ver que o animal estava perto de reproduzir.
Daí não hesitou em fazer a sugestão ao adolescente, de forma a garantir que o animal retome em breve a vida em liberdade. A iguana já está no Cetas Tangara, onde passará por reabilitação, antes de ser devolvida à natureza. No mesmo dia, também entregues na manhã desta terça à CPRH: outra iguana, macho, que um motorista encontrou no quintal de sua casa, nos Coelhos; um cágado de água doce, com o casco quebrado, que uma moradora de Dois Irmãos encontrou; e uma ave bacurau (Nyctidromus albicollis), com a asa direita fraturada, trazida por gestores da Reserva de Vida Silvestre (RVS) Matas do Sistema Gurjaú. Paulo Pedro é quem, é gente.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cprh / Divulgação