Com dois companheiros de grupos que exploram o Recife a pé – Francisco Cunha (Caminhadas Domingueiras) e Evandro Duarte de Sá (autor do livro “101 Manias de Grandezas de Pernambuco) – estive dando um passeio para conhecer alguns pontos históricos localizados em municípios da Região Metropolitana do Recife. Estávamos a caminho de Vitória de Santo Antão, quando Evandro resolve fazer um pequeno desvio de rota para nos mostrar, em Moreno, uma pérola da arquitetura típica das habitações da aristocracia açucareira dos séculos passados (foto acima). Segundo Fernando Guerra de Souza (autor do livro Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco), a casa-grande, em estilo neoclássico e do tipo solar, “é uma das mais notáveis erigidas em Pernambuco no século 19”.
Em Pernambuco, restam algumas dessas relíquias, a maior parte em estado precário ou em ruínas, como são os casos do casarão do antigo Engenho do Meio, que pertenceu a João Fernandes Vieira, então proprietário de dois outros, o São João e o Santo Antônio. No século 17, as três propriedades ficavam na chamada Várzea do Capibaribe, onde é hoje o bairro da Várzea.
Do casarão de Vieira, só se observa os alicerces que são alvo de escavações por um grupo de arqueólogos e estudantes da Universidade Federal de Pernambuco. O antigo engenho fica em terras que agora pertencem ao campus da UFPE. Outro engenho de grande importância histórica é o Monjope, situado no município de Igarassu, a 26 quilômetros do Recife. E que, embora tombado pelo Estado, está totalmente arruinado, quase desabando, embora a imponente casa grande ainda esteja de pé, mesmo que aos trancos e barrancos.
Para se ter uma ideia da história do Monjope, ele foi doado em 1600 aos jesuítas. Entre o século 17 e o 19 funcionou como engenho, e o casarão chegou a hospedar o Imperador Pedro II, em sua histórica visita a Pernambuco, em 1859. Passando essas informações em revista só para lembrar que o casarão do Engenho Moreno sobrevive. E, o que é melhor, é a exceção da regra. Está muito bem conservado, por cuidado dos seus proprietários. Não o visitamos, mas observá-lo da porteira já valeu. Como o hoje em ruínas de Monjope, o de Moreno também recebeu o Imperador,em 1859. Aliás, este foi o ano que a edificação foi concluída, justamente para acomodar a família real.
Ao longo dos anos de produção, o Engenho Moreno passou por diversos proprietários, até ser adquirido pela família Souza Leão, no século 19. O Solar Souza Leão, como é chamado, pertenceu a Antônio Souza Leão, o Barão de Moreno (1808-1882), que possuía “somente”oito engenhos de cana-de-açúcar naquele município, localizado a 28 quilômetros do Recife.
O Barão foi um dos cinco encarregados no estado de preparar a visita de Dom Pedro II a Pernambuco, tendo hospedado o Imperador, em sua histórica incursão pelo Brasil, quando fez viagem de quatro meses, com roteiro do Espírito Santo à Paraíba. O engenho Moreno – onde fica a belíssima casa grande – chegou a possuir mais de uma centena de escravos. O Barão de Moreno casou duas vezes. Ficou viúvo do primeiro casamento, do qual teve doze filhos. Casou em segundas núpcias com Maria Amélia Pinho Borges (1839-1900), com a qual não teve descendentes. Primeira e única Baronesa de Moreno, Maria Amélia tem uma história curiosa. Após ficar viúva (o que aconteceu em 1882), decidiu – quatro anos depois – alforriar os seus escravos. O que aconteceu, portanto, dois anos antes da Lei Áurea, que oficialmente daria por encerrado o período triste da escravatura no Brasil.
Abaixo, você confere mais informações sobre antigos engenhos, escravos e locais históricos.
Leia também
Grupo “Caminhos de Moreno” redescobre engenhos e organiza trilhas
Moreno: uma história de assombração
Documento inédito revela riquezas acumuladas por Igreja católica no passado incluía Monjope
Açúcar, riqueza e arte em Pernambuco faz “viagem” a quatro séculos de estilos arquitetônicos
Arqueólogos revolvem o passado no antigo Engenho do Meio, na Várzea
Vamos visitar o “rurbano” bairro da Várzea? História é o que não falta
A Várzea de “Nos tempos do Imperador”: Igreja ostenta a coroa na fachada
Na Várzea, jaqueira lembra escravizados e vira memória de história de amor
Secular Magitot em ruínas na Várzea
Fortim do Bass: inédita relíquia de areia dos tempos de Nassau
Sessão Recife Nostalgia: Antônio Gomes revive o passado de Apipucos
Caminhadas Domingueiras: percurso entre os dois arraiais do século 17 que fizeram história
Forte do Buraco: Tombado, destombado, tombado de novo e… abandonado
Achado arqueólogo no Recife: 40 mil fragmentos, cemitério e fortaleza
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins / Roberto Carneiro / Fundarpe /Acervo #OxeRecife /
Maravilha de texto Letícia sobre esse belíssimo casarão! 👏👏👏👏