A agiotagem está solta no meio do mundo. Basta caminhar por bairros onde há movimentado comércio – como o de Casa Amarela – ou em ruas do Centro do Recife, para o pedestre ser abordado a cada quatro metros, por jovens com cartões e folhetos nas mãos, oferecendo empréstimos em uma das muitas “lojas” que proliferam na cidade, vendendo facilidades para que o cidadão ou cidadã tenha acesso a financiamentos sem burocracia, com quitação via cartão de crédito. Pela legislação brasileira, no entanto, esse tipo de empréstimo é irregular, tanto quanto realizado por pessoa física quanto jurídica. De acordo com advogados ouvidos pelo #OxeRecife, esse tipo de operação configura crimes de contravenção penal, usura e agiotagem.
As ofertas são sempre parecidas. Miram pessoas de baixa renda, pois dificilmente ultrapassam R$ 1 mil reais. “Empréstimo no cartão, recebe na hora. R$ 1.000 / 12 X R$ 104,99. Ou seja, quem pedir vai ter que desembolsar R$ 259, 88 a mais do que o valor solicitado.I Isso, além de algumas “taxinhas” que sempre sobram nesse tipo de operação. Agora, já não são só jovens que abordam os passantes. Infelizmente, os banners com esse tipo de “operação financeira” são vistos pendurado em postes, em muros, em prédios. Estão tomando conta da cidade. E em letras garrafais. Daqui a pouco… vão querer pendurar até no pescoço da gente…
Na semana que passou, o histórico Poço da Panela, na Zona Norte, amanheceu com cartazes desse tipo em praticamente todas as esquinas. Como os moradores do bairro tradicional são muito organizados, a articulação começou logo cedo com os órgãos oficiais e também com grupos de bairros vizinhos, como o de Casa Forte. A conclusão foi a de que os dois bairros estavam empestados . No mesmo dia da “descoberta”, moradores do Poço da Panela acionaram a Prefeitura do Recife, que enviou funcionários do Serviço de Controle Urbano para retirar os afrontosos cartazes, que também provocam poluição visual e não têm licenciamento de órgãos competentes para que sejam espalhados nas vias públicas.
As postagens tiveram início na terça-feira, quando a situação se agravou. Na quarta-feira a Prefeitura do Recife já havia recolhido todo o material. Ou seja, agiu rápido e de forma competente. Na quinta-feira, no entanto, as placas estavam de novo nos dois bairros, porém em outras esquinas, segundo informa a arquiteta e urbanista Bárbara Kreuzig, moradora do Poço. “Como não há punição, o poder público fica gastando rios de dinheiro tirando placas irregulares, e o dinheiro de quem mais precisa indo pelo esgoto”, reclamou um morador, pelas redes sociais.
Outro também criticou a omissão dos órgãos oficiais com a agiotagem explícita. “Poderia o poder público ir até o contraventor acabando com essa festa. É ligar, acordar uma investigação e multar, alertar uma gradação de penalidades, coagir o infrator”, sugere outro. “Tem um telefone na placa. Fácil de encontrar o pilantra”, completa nos grupos sociais dos dois bairros. Pilantra, ou pilantras? O que não falta no Recife é cartaz oferecendo esse tipo de serviço. Mas em Casa Forte e no Poço, o “agente” é sempre o mesmo, a julgar pelo número do telefone, sempre igual.
Como se já não bastasse a agiotagem oficial – de bancos públicos e privados, cheques especiais e cartões de crédito – a que o cidadão é submetido no Brasil. Isso depois de passar o mês ralando muito para ganhar pouco. E sofrendo para espichar o salário, que geralmente acaba antes do fim do mês. A última pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (realizada pela Confederação Nacional do Comércio) indicou que “somente” 84 por cento das famílias pernambucanas estão com o orçamento comprometido por dívidas. Com a agiotagem, com certeza, esse número vai aumentar. Cadê o Procon? E os outros órgãos fiscalizadores? É preciso agir, porque pelo que se vê, emprestar dinheiro virou festa.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Moradores de Casa Forte e Poço da Panela