A violência virou mesmo epidemia em Pernambuco. E não há como negar. O Pacto pela Vida já era, pelo que se vê. Dados extraoficiais mostram que o final de semana foi o mais violento do ano, com 66 homicídios. Isso sem falar nos assaltos a 35 ônibus no período, o que eleva para 808, os coletivos que sofreram investidas de marginais em 2017. Os homicídios já somariam 870, só este ano. Uma verdadeira guerra civil. Nos bares, nas esquinas, nas discussões em família, nas redes sociais, é só o que se fala. Tem gente que não vai mais ao cinema nem ao teatro de noite, porque tem medo de sair de casa.
Outros – como a titular desse #OxeRecife – evitam passar em certos lugares, devido ao trauma de assaltos. Como já sofri abordagem de marginais (com arma, caco de vidro e até um grupo de moleques já segurou o para-choque do meu carro, enquanto um outro me “pedia” dinheiro), vou sempre por outro caminho, quando preciso me deslocar da Zona Norte à Zona Sul, evitando, claro, a Agamenon. Pode ser de dia ou de noite. O medo é sempre o mesmo. Também sinto temor, quase pânico, quando fico muito tempo parada em qualquer sinal, pois já fui abordada com arma de fogo, na Avenida Rui Barbosa, às oito da manhã.
E uma vez, andando a pé pela Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti fui surpreendia por uma adolescente que surgiu de repente, do nada, e me exigia a mochila e o celular. Fui salva por um motorista de táxi, que percebeu que era um assalto, parou e me ofereceu uma corrida. Disse que era quinta cena do gênero que via naquele dia, e que enquanto uma garota tentava me assaltar, uma outra, atrás, lhe dava cobertura. Felizmente, não vi a segunda, e não perdi nada, na única abordagem que sofri, andando a pé. As outras foram todas no volante.
Uma vez, me senti uma vitoriosa, na Agamenon, porque enrolei o marginal. Dei um celular velho, o “do ladrão”. Ele saiu correndo, sem observar o objeto. No mesmo momento, me aparece outro marginal, a gritar, histérico: “o dinheiro, o dinheiro”. Menti para ele: “Já dei tudo àquele outro”. E ele saiu correndo atrás do outro, para dividir o “produto” do roubo. Para minha sorte, o sinal abriu, e disparei. Hoje evito passar naquela Avenida. Na última semana, nas redes sociais, houve muita troca de informações sobre assaltos, homicídios, temores.
Vejam alguns desses depoimentos: “Gente, para quem está no plantão, acabaram de matar um homem aqui, na frente da minha casa. Aqui na Conselheiro Aguiar (na praia de Boa Viagem), em frente ao número 2627. Uma coisa horrível. Três tiros e muita correria na Avenida”, avisa Gerlândia Bezerra, jornalista, via WhatsApp. “Domingo, Recife, 13h20m. Duas pessoas estão sentadas conversando tranquilamente no Parque da Jaqueira. Chegam dois rapazes, puxam uma faca e assaltam essas duas pessoas. Levam sua mochila. Pessoas incrédulas, olham. Os assaltantes pulam a cerca, e vão embora tranquilamente”, afirma pelo Facebook Paulo Augusto, assessor do Deputado Daniel Coelho (PSDB-PE). “E mais um vídeo de assalto no Recife chega nos grupos de WhatsApp. Dessa vez em uma farmácia. Assim caminha a nossa guerra civil. A vida se tornou estatística de números, que sobem e descem. Viver em um lugar com medo é uma das piores sensações. E viver preso, é viver tenso. E ainda me perguntam se Israel é perigoso. Meu caro amigo, perigoso é o Recife”, diz a empresária Rosário Pompéia, dona da Le Fil aqui em Pernambuco. E conclui: “Pior é que a gente naturalizou esse sentimento de medo”. E aí repito a indagação de ingrid Luck, também via Facebook. “Onde é que a gente vai parar?”
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife