Há alguns anos, quando eu veraneava na praia de Itamaracá, lembro-me que o dono de um mercadinho foi preso por fraude na venda de gás de cozinha. Em manobra arriscada, ele roubava 50 por cento do gás armazenado em cada botijão. A outra metade ele recolocava em um outro depósito, e vendia à clientela pelo preço de um cheio. A mutreta foi desmascarada, claro. O comerciante malandro foi denunciado à polícia, passou a ser investigado e terminou preso e processado. O caso do dono do mercadinho foi à parte. Mas agora, em 2022, com os preços pipocando há um golpe coletivo e comum contra o consumidor. O pior: ninguém faz nada. As autoridades competentes não tomam as devidas providências.
De leite a biscoito, da torrada à bolacha, todas as mercadorias estão com tamanhos e pesos reduzidos. Mas os preços… ah, esses permanecem lá em cima. Há algum tempo, por exemplo, percebi que o leite em pó Ninho que vinha no sachê dava para encher um pote de vidro que tenho em casa e sempre sobrava um pouco que eu deixava na embalagem. Mas de 2021 para 2022, passei a perceber que o famoso (e delicioso) leite em pó já não enchia mais o pote. Fui observar. O sachê de 850 gramas tivera a embalagem reduzida para 750 gramas. Nesta semana, ao ir ao supermercado, me deparei com embalagem ainda menor, de 625 gramas. Porém o preço não mudara. Ou seja, a Nestlé – a maior fábrica de alimentos no mundo – está recebendo mais vendendo menos, em um verdadeiro desrespeito à economia popular. A empresa afirma que está presente “em 99 por cento dos lares brasileiros” .E, nesse caso, imaginem quanto ela não está tungando de quem não tem. A empresa marca presença em 190 países, e tem sede na Suíça. Não custa perguntar: Será que lá na Suíça, ela não seria punida se fizesse o mesmo?
Ou faz no Brasil porque os órgãos competentes não fiscalizam? Procurei na embalagem do Leite Ninho algum aviso ao consumidor sobre a mudança de peso, como foi feito no biscoito Bono. Se tem, não encontrei. Percebi apenas uma diferença. Na embalagem anterior, de 750 gramas, tem escrito na parte superior: “Rende seis litros ou 30 copos”. Na com 625 gramas, não se fala no rendimento. “A melhor escolha rende + nutrição”. O que a Nestlé esqueceu de dizer foi que o consumidor está pagando o mesmo preço, porém recebendo 125 gramas a menos por embalagem. Recentemente, a empresa foi notificada pelo Procon, em São Paulo, por colocar ingredientes no Leite Condensado que nada têm a ver com a fórmula original.
Não sei se vocês já observaram, mas se não tiverem cuidado, vão levar para casa “Leite Ninho”, que não é leite, mas um “composto lácteo”. A diferença fica só na cor da extremidade superior da embalagem: vermelho, em vez de azul. Mas o preço é o mesmo do “leite integral”. Pelo menos nos mercados que visitei, no Recife, onde o sachê custa entre R$ 30 e R$ 39. Ou seja, os mesmos preços praticados quando o peso era maior. Outros produtos que estão com tamanho bem reduzido são os biscoitos. E não só os da Nestlé, mas de várias marcas. Porém os desta empresa chamam mais a atenção. Parecem moedas, de tão pequenos. O biscoito Bono, de chocolate, reduziu o peso da embalagem de 140 para 126 gramas. Mas ao contrário do Leite Ninho, pelo menos, o aviso está na embalagem. Habituada a fazer feira para a família e também a comprar produtos para produção de doces, a pernambucana Valéria Helena Soares reclama que alguma coisa mudou no Leite Condensado, um dos produtos mais tradicionais da Nestlé. “Não reparei se o peso está reduzido, mas antes eu fazia 50 brigadeiros (docinho de chocolate) com uma lata de Leite Moça, e agora só consigo fazer 40”, diz. “Também reparei que várias marcas de biscoitos e bolachas reduziram o tamanho”, afirma.
Ela conta que antes nunca conseguia armazenar os biscoitos de um pacote inteiro no pote”. E explica: “Antes não cabiam todos, mas agora até sobra espaço”. E informa que notou diferenças de tamanho em biscoitos não só da Nestlé, mas também da Pilar e da Capriche. Professora aposentada, Valéria conta que a fraude é estarrecedora.”Tudo, mas tudo mesmo está com tamanho reduzido, só não se reduz o preço”. Nesta semana, amigas minhas deram conta, também, de redução no tamanho de torradas de várias marcas. Valéria diz que notou que até os rolos de papel higiênico estão durando menos. “Devem ter reduzido a metragem, pois estão acabando de forma muito mais rápida”. Ela já notou diferença até nos detergentes, utilizados para lavar pratos. “Não sei se é o peso ou a consistência, a fórmula, mas atualmente a gente tem que usar mais e ele dura menos”. Sinceramente, ao meu ver, o que cada indústria está fazendo é uma fraude tão grande contra o consumidor, quanto a praticada pelo dono do mercadinho que vendia botijão de gás com apenas metade do conteúdo, pelo preço de um inteiro.
Cadê os órgãos de defesa do consumidor?
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife