Fora de moda para uns, calendários de 2023 com xilogravuras fazem a festa de colecionadores

Depois do belíssimo calendário da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) dedicado a Gilvan Samico,  que está um primor, 2023 chega com outra “folhinha” – como chamavam os antigos – tendo como tema as xilogravuras. Dessa vez, de J.Borges, artista popular cuja obra está espalhada pelo mundo. E que foi considerado por Ariano Suassuna (1927-2014) como o melhor  xilogravurista não só do Brasil, mas do mundo.

Retratando cenas do cotidiano  do Nordeste – como as feiras, o forró, os retirantes, os tocadores de viola, o folguedo do cavalo marinho – o calendário sobre J.Borges nos conduz a uma verdadeira viagem pelo mundo mágico do pernambucano de Bezerros. Ali , a 107 quilômetros do Recife, ele mantém um museu sobre a xilogravura, que é hoje uma das principais atrações turísticas do município. As outras são Serra Negra, a produção do bolo de faixas e o papangu. Curiosidade: O calendário não foi confeccionado por nenhuma empresa da região Agreste, onde fica Bezerros. Mas sim do Sertão. Ou melhor, do Sertão do São Francisco.

É que a iniciativa resulta de parceria entre a Clas Comunicação e Marketing, com  a Cadan Distribuição, a Gráfica Bandeirante e a Agrovale, empresas situadas no eixo Petrolina (PE) – Juazeiro (BA),  cidades situadas à margem do Velho Chico. “Tudo com as cores vivas das festas, do imaginário, do lúdico e do poético, da identidade e do universo cultural e popular do Nordeste”, afirma Carlos Laerte, da Clas Comunicação e Marketing, referindo-se às ilustrações do calendário. Ele é idealizador da série de calendários que, em 2023, completa um ciclo de 19 anos de publicações consecutivas com temas sempre bem interessantes, retratando a paisagem, a cultura ou a poética da Região.

Em 2022, o calendário foi dedicado a um artista da caatinga, Maciel Melo, que é sertanejo de Iguaraci, mas passou boa parte de sua vida em Petrolina. A edição dedicada ao “caboclo sonhador” foi ilustrada com fotografias de paisagens do Sertão, inspiradas na poética das músicas do artista, hoje nacionalmente consagrado. Entre as edições do calendário que fizeram maior sucesso, encontram-se os Cartões Postais de Petrolina e Juazeiro (2004), As flores da Caatinga (2006), A Arte que vem do Vale (2006), Fé e Folguedo (2008), Artesanato de Petrolina (2015). Também chamaram muito a atenção São Francisco – Reflexos de um rio (2017), Noturno Vale do São Francisco (2018), Os meses e suas cores (2021). Ou seja, cada um mais lindo que o outro.

Há muita gente que aposentou o calendário e as agendas de papel, dos quais não abro mão. Adoooro!  Principalmente quando a gente se defronta com edições tão primorosas, quanto as da Cepe e a da Clas.  No século 21, as pessoas conferem datas e armazenam os compromissos no arquivo do telefone celular. Mas… sinceramente, vale a pena folhear calendários como o dedicado Samico (da Cepe) e, agora, este sobre J.Borges (da Clas).  Os dois não são só para se usar, mas para guardar. Devem despertar a cobiça de colecionadores. E já podem ser considerados como verdadeiras relíquias. Lindos!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Clas Comunicação e Marketing / Reprodução de xilogravuras de J.Borges

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4 comments

  1. Que tema maravilhoso Letícia! Parabéns mais uma vez por nos brindar com um texto maravilhoso sobre o universo do Cordel de J. Borges, esse artista fantástico que tive oportunidade de conhecer numa dos eventos do Andarapé!

  2. Uma matéria que valoriza o fazer jornalístico e motiva o leitor para mergulhos aprofundados no tema Xilogravura e na obra desse mestre que é J. Borges. Muito obrigado pelo profissionalismo e o olhar generoso para com nosso trabalho.

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