Maior manifestação de fé e devoção em Pernambuco, a Festa de do Morro da Conceição tem muitas faces: a religiosa, a comercial, a da mendicância e até a política. Bem em frente ao Santuário, no local onde ocorrem as missas, mulheres seguravam faixa em protesto contra o Projeto de Emenda Constitucional que impõe teto aos gastos do Governo. “Nota da CNBB: Igreja Católica contra a PEC 241”, dizia uma faixa branca, com letras azuis e vermelhas, segurada por duas devotas, bem em frente ao Santuário.
No microfone, um padre dizia, após a missa, que a Festa é um bom espaço para se fazer um protesto contra o STF, “pela sua decisão de aprovar o aborto no terceiro mês de gestação”. Ele também fazia apelo à multidão de fiéis, para que não dar moedas às crianças. “Não entreguem esmolas a crianças. Tem família que aluga as do vizinho, para explorar a boa fé dos devotos”, lembrava. E aconselhava, também, para que ninguém fizesse compras a meninos e meninas. “Não vamos estimular o trabalho infantil”, justificava. Realmente nas ladeiras de acesso ao Morro era grande a mendicância, com presença de crianças.
As calçadas ficaram totalmente ocupadas por pedintes, e as pessoas precisavam caminhar no meio das ruas. Tinha gente de todas as idades pedindo. Eles vêm com portas, pedaços de madeira e papelões. E improvisam assentos sobre o vão pelo qual o esgoto corre a céu aberto, rolando ladeira abaixo. Na área comercial, as “promoções” oferecidas como “Black Friday” iam da água mineral às imagens de Nossa Senhora da Conceição, de colares dourados a CDs com hinos religiosos, cuja “queima” era promovida pela própria Igreja. “Temos promoção, black-Friday, CDs com as músicas da Festa de Nossa Senhora, por apenas R$ 10”, anunciava o Padre ao final da missa, no meio da manhã.
“Black Friday”, também, entre os comerciantes. Em tempos de crise, sobravam promoções para todo tipo de mercadoria: de imagens da santa a terços luminosos, de brinquedos populares a colares dourados, de água mineral a cachorro quente, de camisetas com imagens da santa a chaveiros a bonés e chapéus. Moradores do Morro improvisaram barraquinhas, em frente às suas casas, e vendiam velas artesanais, bolos, tortas, refrigerantes, e dudus (picolés). Quem estava cheio era o Bar da Vista, que fica na Estrada do Morro, e do qual se vê a paisagem do Recife, pontilhada de arranha-céus. as autoridades do Estado e do Recife estiveram logo cedo no Santuário.
(Fotos: Letícia Lins / #OxeRecife)
Bom seria se o aludido Projeto de Emenda Constitucional impusesse, indistintamente, “teto aos gastos do Governo”, inclusive aos custos dos nossos políticos nas três esferas federativas: União, Estados e Municípios. No entanto, essa PEC só limita os gastos com educação e saúde, ameaçando, sobretudo, nossas universidades estaduais e federais.