Um passeio fotográfico pelas árvores, difundindo a força, a beleza e os mistérios da natureza. Depois de registrar com sua câmera e seu olho mágico Baobás, Irokos (gameleira branca), Umbuzeiros, Castanheiras do Maranhão e Mungubas, símbolos sacros seculares, no Brasil e África, a fotógrafa Roberta Guimarães inaugura nessa quarta-feira (13/11), no Recife, a exposição “Árvore da Palavra: Território Ancestral, Sagrado e da Criação”.
A vernissage (só para convidados) acontece na Galeria Plural, na Rua da Moeda, às 18h. A partir da quinta-feira, a mostra recebe o público com acesso gratuito. E, cá para nós, é imperdível. Não deixe de ir. Primeiro, porque Roberta é uma profissional consagrada que não se preocupa só com a estética das fotos, mas também como seu viés antropológico. E é aí que reside a diferença. Ela inclusive tem livros publicados com seus trabalhos, entre eles “O Sagrado, a Pessoa e o Orixá“, “É do coco, é do coqueiro” e “Olaria Ocre”.
Itinerante, a mostra já percorreu o Agreste e o Sertão de Pernambuco. Nas duas regiões, foram utilizadas as próprias árvores como suportes para expor as obras. Conectadas por meio de varais de cabo-de-aço e confeccionados em tecido tactel, foram expostas acompanhadas de textos narrativos informando sobre o projeto, que encerra o seu ciclo 2024 com a exposição no Recife. Para Roberta, a passagem pelo Sertão e Agreste, em espaços abertos, “foi uma devolutiva ao que recebi da natureza, ao que essa experiência me propiciou”. Já a chegada a uma galeria, no Recife, espaço dedicado à arte, “além de servir de reflexão para o sagrado e a relação dos homens com a natureza, reforça a importância da arte nesse contexto”. A mostra marca, ainda, o Mês da Consciência Negra, cujo dia é celebrado nacionalmente em 20 de novembro.
Com curadoria da pesquisadora Joana D’Arc Lima, a expô conta com mais de 30 obras, distribuídas em fotografias tradicionais, com imagens e cenários captados em Pernambuco (Zona da Mata, Agreste e Sertão). E também na África (Nigéria, Senegal e Benin). Há, ainda, trabalhos em técnicas alternativas de impressão: antotipia, que utiliza pigmentos vegetais para emulsionar o papel aquarela onde se produzirá a imagem; e fitotipia, em que a própria folha é suporte para criação da imagem. No Recife, as obras estão distribuídas em duas salas de exposição, separadas por eixos: o político, tem como destaque o trabalho “Deu pau no Brasil”, e “Pela floresta em pé”, que mostra a imagem da castanheira do Maranhão, na cor vermelha, cercado com o nome de ativistas ambientais que foram assassinados no Brasil por defenderem o meio ambiente..
Entre os ativistas homenageados estão Chico Mendes, Dorothy Stang, Bruno Pereira, Don Philips e povos indigenas. No segundo espaço, dedicado ao sagrado, será possível conferir imagens de árvores milenares que serviram de local religioso, e também para celebrações e encontros afetivos. Também há novidade. É que a exposição terá mais algumas inovações. Foram produzidas especialmente para a ocasião kits com caixinhas contendo as folhas originais impressas e a fotografia dessa fototipia (em papel de algodão, no suporte de vidro e moldura). Depois da estreia para convidados, a expô abre ao público no dia seguinte (14.11), com acesso gratuito. A APG fica na Rua da Moeda, 140, no bairro do Recife e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; e no sábado das 14h às 18h. Com suporte do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura, a exposição itinerante rodou o interior.
A mostra já esteve no Quilombo Curiquinha dos Negros, em Brejão (Agreste) e em Afogados da Ingazeira (Sertão do Pajeú), ambos em julho passado. Nas duas ocasiões, foram realizadas sessões de bate-papo com a artista e oficina de formação em antotipia e fitotipia. O projeto “Árvore da Palavra” vem sendo desenvolvido desde 2018, quando a fotógrafa começou a ter contato com autores como Antônio Bispo dos Santos e Stefano Mancuso, Davi Kopenawa, Ailton Krenak e Bell Hooks, que tratam da questão ambiental conectada às relações espirituais em várias comunidades. Diz Roberta:
“As árvores são a maioria dos seres vivos na terra e são elas que também vivem mais. Precisamos mais delas do que elas de nós. Com minha aproximação do pensamento vegetal desses autores, percebi a importância de apresentar essas relações poéticas, afetivas e ancestrais das pessoas com as árvores. A ideia da exposição não é só trazer as imagens das árvores, mas de poder trazer um pouco dos relatos, ou pequenas narrativas dessas relações, aproximando a população da urgente necessidade de preservação e consciência ambiental.”
A curadora da mostra, a pesquisadora Joana D’Arc Lima, ressalta a importância das africanas árvores da palavra, que não falavam, apenas escutavam os ruídos, os silêncios, as palavras e os corpos animados e inanimados da mãe natureza. “Na tradição africana, de maneira geral, essas árvores foram feitas para ouvir todo o vilarejo. Conta-se que todo o vilarejo possui uma árvore da palavra ou dos conselhos. Sob essas árvores, as pessoas sentam para discutir, tomar decisões, contar histórias, buscar conselhos”, diz. As fotografias foram produzidas durante pesquisa com o mesmo nome da exposição – viabilizada pelo Funcultura (2016/2017). O trabalho foi realizado no Recife e nas três outras regiões do estado: Zona da Mata, Agreste e Sertão. Ainda, na Nigéria, Senegal e Benin, países do continente africano.
O #OxeRecife, que tem duas campanhas permanentes em defesa das árvores (#paremdederrubarárvores e #recifemergênciaclimatica) recomenda a todos que visitem a exposição de Roberta Guimarães. Pelo quilate da profissional e, também, pelo respeito e amor às árvores, sejam ou não sagradas. Nos links abaixo, mais informações sobre árvores.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Roberta Guimarães e Sephora Silva
Serviço:
Exposição Árvore da Palavra @arvoredapalavra
Por Roberta Guimarães @roberta.guimaraes.fotografia
Informações: arvoredapalavraexpo@gmail.com
Etapa Recife
Local: Arte Plural Galeria (APG) – Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife
Visitação ao público a partir do dia 14.11.2024, no horário de funcionamento – segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, das 14h às 18h
Entrada franca
Instagram: @arte_plural_galeria
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Roberta Guimarães e Sephora Silva / Divulgação
Passarei na Arte Plural neste final de semana, quero ver a mostra. Pelo descrito no texto, os trabalhos de Roberta mostram-se excelentes. E a curadoria de Joana D’Arc é uma referência de peso.
Realmente, imperdível a exposição de Roberta Guimarães.
Ótima indicação do Oxe Recife que tem duas campanhas maravilhosas em defesa das árvores que, pelo alcance social, educacional e de preservação e respeito do meio ambiente, todos deviam conhecer, apoiar e divulgar .
Muito obrigada pelo apoio à causa, Sofia!