Sapucaia, piquiá, pororoca, pajurá, uchi, cutite, abil, bacuri, taperabá, murici-da-maya, murrão, ginga, ajuru, camucamu. Esses nomes lhes dizem alguma coisa? Eu desconhecia quase todos. Pois são plantas florestais frutíferas da Amazônia. Dessa relação aí, eu só tinha ouvido falar no camucamu, pois já havia escrito uma reportagem sobre essa fruta, então desconhecida no resto do Brasil, e tida como aquela que tem a maior concentração de vitamina C, ganhando do limão, da acerola, da laranja, da goiaba.
Pouco conhecida pelos brasileiros, o camucamu é ácido, mas chega a ser é negociado em alguns países da América Latina na forma de cápsula, como vitamina C. Os caboclos da Amazônia chegam a utilizar a fruta como isca, já que é muito apreciada por peixes da região. Nomes daquelas fruteiras acima me foram recentemente enviados pelo biólogo Pedro Paulo Siqueira Ferreira, Coordenador da Baderna (Brigada de Amigos Defensores da Ecologia e dos Recursos Naturais da Amazônia). Aquelas plantas estão entre as espécies com as quais a Baderna pretende plantar 1 milhão de mudas de árvores nativas na Amazônia. E quando se fala em frutos da Amazônia, a gente lembra logo de açaí e cupuaçu, já bastante consumidas pelos recifenses. Mas… e a piranga. Você conhece? De longe, a gente até pensa que isso aí em baixo é um cesto de cajás. Não é não. É piranga mesmo.
A piranga está entre as 150 espécies de árvores que devem ser disseminadas pela Baderna, e cujas mudas já encontram-se em grande parte nos canteiros. A piranga me chamou a atenção em novembro do ano passado, quando estive em Alter do Chão, em Santarém (no Pará), com meu amigo Fernando Batista. Foi em um dia que eu só queria tomar banho nas águas do Rio Tapajós, pois já estávamos à véspera do fim da viagem. Andarilho, Fernando decidiu, sozinho, fazer uma trilha pelo Morro do Piroca, um dos atrativos de Alter. Ele chegou ao hotel com um saco plástico cheio de uma frutinha que lhe matara a fome na caminhada. Mas a gente só não sabia o nome: era piranga, que é encontrada em praias, igarapés e margens de rios da Amazônia. Como o camucamu, chega a servir de isca para peixes.
Dei uma busca na Internet, e vi pouca coia sobre o fruto. Apelei para Pedro Paulo. O professor me informa, por e-mail, que não há estudos aprofundados sobre a fruta, mas que “para a biodiversidade é uma importante fonte energética nutricional”. Explica que a piranga também se “apresenta como fonte de vitamina C”, e que “em face da coloração, deve ser fonte de caroteno”. A frutinha tem polpa adocicada, quatro sementes por fruto, e a casca fica alaranjada, quando está madura. “Mas o conhecimento popular, em certas comunidades, fala em efeitos afrodisíacos, ainda não estudados”. Toco o telefone para Fernando, agora residindo em Salvador, contando a novidade. Quem sabe a piranga não é uma espécie de viagra dos povos da floresta? E ele cai na risada. Desconfia que a piranga (que ele comeu aos montes) é energética mesmo. É que meu amigo dorme como uma pedra. Mas depois do “banquete”, no Morro do Piroca, em Alter do Chão, passou a noite em claro. Mas só me revelou a insônia agora.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Fernando Batista e Pedro Paulo Siqueira Ferreira (Baderna) / Cortesia