Do jeito que as ruas estão – totalmente engarrafadas- e diante das mudanças climáticas – provocadas pelos gases (inclusive aqueles liberados por veículos), que formam o efeito estufa – a bicicleta torna-se um meio de transporte cada vez mais necessário. Aliás, necessário não. Essencial, mesmo. Quanto mais gente usando bike, melhor para a natureza. Uma outra opção é andar, como é o meu caso, pois adoro caminhar. Também o caso do urbanista Francisco Cunha e do servidor público Benedito Nunes Pereira Filho que costumam fazer quase tudo a pé, inclusive os deslocamentos para o local de trabalho. Francisco Cunha, coordenador das Caminhadas Domingueiras, transformou-se em ativista da cidadania a pé. E eu também, claro!
Bike é bom. E andar a pé, também. O problema é que há locais no Recife onde ciclistas e até motociclistas não respeitam do pedestre e transitam livremente pelas calçadas. Uma vez, um ciclista passou com um caixote de plástico no bagageiro e minha roupa enganchou em algum apetrecho (não lembro qual) que ele levava, e eu quase caí. Foi ali na ponte-viaduto que liga o Parnamirim à Torre, onde é comum motos e bikes circularem nas calçadas. E se o pedestre reclamar, ouve é desaforo do tipo “E eu vou morrer, é, circulando no meio dos carros?”. No dia que minha roupa enganchou, eu só não caí porque gritei e o ciclista parou. Foi inclusive atencioso, desculpou-se pelo quase acidente. Pelas leis do trânsito, o ciclista deve circular na faixa a ele destinada. Na ausência desta, deve se locomover no mesmo sentido do trânsito, perto do meio-fio e não colocando em risco o pedestre.
Caso queira a bike na calçada, ele deve descer e conduzi-la a pé, segurando pelo guidão, que é aquela barra utilizada para direcionar a bike. Motociclistas em hipótese nenhuma podem ocupar ciclovias e ciclofaixas. E muito menos as calçadas. Mas aqui no Recife isso é comum. Já as bikes podem ocupar as calçadas se houver faixas para as magrelinhas. Como ocorre, por exemplo, em alguns trechos da Avenida Cruz Cabugá e também da Avenida Mário Melo, no bairro de Santo Amaro. O problema na Mário Melo (fotos acima) é que não resta lugar para o pedestre. Porque há locais que ele precisa se equilibrar na mureta de concreto do canteiro central, para não disputar espaço com as bikes ou com os automóveis. Já na Cruz Cabugá, o passeio está perfeito. Há faixa vermelha, para os ciclistas, mas nas duas margens, restou espaço bastante para o pedestre circular, sem que ele corra risco de ser atropelado. Observe a foto abaixo (Cruz Cabugá). Agora, compare com as duas acima (na Mário Melo). Qual a mais correta?

Leitora do #OxeRecife, Vera Silva envia fotos reclamando da falta de opção para o pedestre que precisa caminhar pelo canteiro central daquela via de Santo Amaro. Vejam o que ela diz:
Oi, Letícia, como fiscal da urbanidade recifense, receba essa pérola que eu só constatei hoje, ao passar pelo canteiro Mário Melo/ Palmares, ao lado do Cemitério de Santo Amaro. A Prefeitura instalou uma ciclofaixa dos dois lados do canteiro, inviabilizando o uso do mesmo pelo pedestre. Eu optei pelo canteiro, porque além de oferecer sombra em vários trechos, me auxilia na transição entre as largas pistas da avenida. Fui surpreendida pelas bicicletas, e me toquei que não há espaço para o pedestre no canteiro central (o espaço é usado pelos pedestres e pelo ciclista ao mesmo tempo)…. o que achei um absurdo, principalmente considerando que as pessoas que transitam por ali vão a hospitais como o Osvaldo Cruz, Procape, INSS, Policlínica Waldemar de Oliveira, Ortopedia do INSS….
Vera Silva tem razão. É um absurdo, sim. Nesta semana, precisei ir à Cttu, e aproveitei para passar lá na Mário Melo, para entender melhor a sua argumentação. Como ela, tive que transitar a pé pelo canteiro central, mas não tinha espaço para mim. Então, caminhei pela faixa vermelha, ao lado das bikes que passavam, tal qual o rapaz da foto vertical, enviada pela amiga e leitora, que admiro pela seriedade no trabalho, e também pelas questões urbanas por ela levantadas para o #OxeRecife, sempre muito pertinentes e que têm tudo a ver com a ideia de um Recife mais civilizado e melhor para se viver.
Leia também
Demandas urbanas: abrigos de ônibus oferecem risco para o passageiro
Pelas “calçadas do meu Recife”
As 22 mil multas cidadãs de Francisco
Sabiá aventureiro, anda sem dinheiro, mas conhece o Brasil inteiro: de bike
Fugindo da pandemia, de bike
Artur é professor nota mil
Vá de bike com a La Ursa Tours
Olha! Recife vai de bike no Dia Mundial Sem Carro
As bikes floridas de Cartagena
Respeitem as bikes. Xô apressadinhos
“A coisa esquentou, vem prá sombra”
Ponto de apoio para ciclistas
Música no Palácio atrai bikes e andantes
Boa Vista, ex Rua Formosa, passa por reforma mas fica sem faixa para bikes
Ciclistas ganham novas faixas
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Vera Silva (cortesia)