Dom Helder Câmara, o Dom da Paz, deixa acervo de 210.000 páginas que acaba de ser tombado

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Uma das figuras mais emblemáticas da Igreja Católica, baluarte na luta contra a ditadura militar implantada no Brasil em 1964 e atualmente em processo de beatificação e canonização no Vaticano, o ex-Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara (1909-1999), acaba de ter tombado pelo Governo de Pernambuco todo o acervo por ele deixado. Decreto neste sentido foi assinado hoje pelo Governador Paulo Câmara (PSB).

O Dom da Paz – como era chamado – dedicou a sua vida à causa dos excluídos e desassistidos e à defesa dos direitos humanos. Também foi uma das vozes mais potentes contra as torturas praticadas nos cárceres da ditadura, o que o levou a ser um dos religiosos mais perseguidos pelo governo militar. Pela sua luta, Dom Helder sofreu atentados e perdeu um dos assessores mais próximos, Padre Henrique Neto, que foi sequestrado, torturado e assassinado pelos agentes da repressão. O nome do Dom também foi banido dos jornais, por imposição da censura exercida na época à Imprensa,  pelos mandatários do poder.

Igreja das Fronteiras faz parte do complexo Memorial Dom Helder Camara, reaberto após dois anos

Durante muitos anos, a simples menção ao seu nome era vetada por censores nos jornais, nas emissoras de rádio e TV. Dom Helder deixou um acervo de mais de 210.000 páginas, que incluem discursos, correspondências, meditações, hemeroteca, livros, poemas, pensamentos. Era seu desejo, registrado em testamento, que o acervo fosse tombado. E ele constitui, com certeza, um prato cheio para teólogos, historiadores, pesquisadores. Durante o período em que era censurado no Brasil, o Dom manteve grande interlocução com autoridades e jornalistas estrangeiros, aos quais denunciava a situação de miséria dos brasileiros e também a violação aos direitos humanos.

Grande parte do acervo do Dom já foi digitalizada na Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e pode ser consultado pela Internet. Foi a Cepe o órgão responsável pela digitalização de 180 mil páginas que subsidiarão o processo de canonização do religioso no Vaticano. O acervo foi tombado pelo relevante valor “de ordem legal, histórico e cultural “. À cerimônia de tombamento, no Palácio do Campo das Princesas, compareceram autoridades civis e religiosas, incluindo o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido.

Além do tombamento do acervo, que está sob a guarda do Instituto Dom Helder Câmara, os brasileiros tiveram outra boa notícia.  É que após passar dois anos fechada – devido à pandemia e a obras de restauração – será reaberto a partir do sábado (5/11), o Memorial Dom Helder Câmara, que funciona na Rua Henrique Dias, 278, Boa Vista. O Memorial é composto pela Igreja das Fronteiras, Casa Museu, Exposição e Espaço Dom Lamartine, que era o Bispo Auxiliar do Dom. Entre outras tarefas, a ele era delegada a de conversar com a imprensa, em nome da Arquidiocese. Provavelmente o Memorial atrairá turistas brasileiros e estrangeiros. Lembro-me que nos anos áureos da ditadura, ao receber meus amigos não brasileiros, residentes no exterior, eles só tinham um pedido quando chegavam ao Recife. Ver o Dom que, apesar dos inúmeros compromissos, era muito acessível.

No Recife, já existe um roteiro que tem por temática o nosso Dom da Paz. É um dos 300 ofertados pelo Projeto Olha!Recife, que disponibiliza passeios gratuitos semanais, com direito a guia especializado. Abaixo, você confere outras informações sobre o nosso Dom inesquecível.

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Serviço
Assunto: Reabertura do Memorial Dom Helder Câmara
O que é:Complexo formado pela Igreja das Fronteiras, Casa Museu, Exposição e Espaço Dom Lamartine
Onde: Rua Henrique Dias, 278
Horário de visitação: de terça a sexta, das 14h às 16h
Quanto: acesso gratuito
Mais informações sobre os documentos do Dom: acervocepe.com.br

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo Instituto Dom Helder Câmara/ Cepe e Letícia Lins

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