Dia de Festa do Morro da Conceição não é só de prece. É de pedido e de prestação de contas. Pedidos são de todas as formas: cura de doenças, arranjar emprego, conseguir dinheiro para quitar débitos, direito de ter uma casa, de passar no vestibular. O “pagamento”, no entanto, depende do gosto do “freguês”. Ou melhor, do devoto. A imagem mais significativa dessa “prestação de contas”, de manhã, era a de Jandira dos Santos de Souza, que subiu o Morro de costas.
De vestido de cetim azul, segurando um ramalhete de sorrisos-de-maria, ela subia a ladeira da Estrada do Morro sem ver o que vinha pela frente. Não ia desamparada. Contava com a ajuda de um filho, que andava normalmente, de frente. Há 16 anos, ela repete o ritual, a cada 8 de dezembro. Veste a mesma roupa – o azul é uma das cores de Nossa Senhora da Conceição (a outra é o branco) – junta as flores e segue para o Santuário. A pé.
“Eu tive diabete e um caroço que não curava. Fiz uma cirurgia e passei um ano com a ferida aberta, sem cicatrizar, ameaçada de amputação”, conta. “No momento de desespero, prometi à Nossa Senhora da Conceição que subiria a ladeira de costas, enquanto puder andar”, contava ela, ao lado do filho Clemente Augusto. Ela atribui a cura de todas as doenças à fé que tem em Nossa Senhora. No alto do Morro era grande o número de adultos, crianças, homens ou mulheres, usando as mesmas roupas. Tinha fiel usando o padrão do Santa Cruz com bola na mão, tinha outro que subiu com vela acesa, e muitos que não usavam sapatos.
As autoridades de Pernambuco e do Recife estiveram no Morro logo cedinho. Política à parte, o clima de confraternização era grande lá em cima: muita gente se abraçando, se cumprimentando, apertando as mãos. Durante as missas, na hora do abraço, era uma festa de fé e fraternidade cristã.
(Foto: Letícia Lins / #OxeRecife)