Depois daquele tombo (8)

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Apesar do tempo ruim, eu deveria ter ido à praia de Boa Viagem no domingo, para caminhar. A maré estava baixa e com a areia socadinha, não há risco de se quebrar o pé, como ocorre quando se anda em nossas calçadas assassinas, como essa da foto. Pois não é que ontem, caminhando por Casa Forte, Apipucos, Monteiro e Poço da Panela, quase torci o tornozelo de novo… Só que dessa vez foi no pé esquerdo.  Não foi nada grave e se resolveu com gelo. Mas poderia ter sido, como em janeiro, quando quebrei a fíbula, em um desnível  na Rua Jocó Velosino, no bairro de Casa Forte. Foram cinco semanas de pé imobilizado, uma sem o colocar no chão e nada menos de três meses de fisioterapia. É mole?

O homem levou um tombo na calçada de metralha e preferiu se arriscar no asfalto.
O homem levou um tombo na calçada de metralha e preferiu se arriscar no asfalto, em frente ao Sambinha do Poço.

Mas sou teimosa e fui andar hoje, de novo, pelo mesmo canto. Quando passava na Praça Rádio Jornal do Commercio, no Parnamirim, vi um rapaz, na minha frente torcendo o pé do mesmo jeito que torci meu tornozelo. Ou seja, como se não bastasse o risco de assalto que a gente sofre a cada esquina, se defronta com esse perigo nas calçadas que não são, sequer, dignas desse nome. Pela legislação, as calçadas de  praças são todos de responsabilidade do poder público. No caso, a Prefeitura, a quem caberia, também, fiscalizar as condições de imóveis privados. Não fez o que devia, multa. Mas o que a gente vê, por aí, é muita falta de cidadania no caso do particular. E no caso do público, desrespeito ao cidadão.

Moça com cachorro preferiu caminhar pela Avenida ao invés de andar na calçada de metralhas.
Moça com cachorro preferiu caminhar pela Avenida ao invés de andar na calçada de metralhas, perto da Fundaj Casa Forte.

Hoje ao passar pela Avenida Dezessete de Agosto me defrontei com uma calçada de metralhas. Isso mesmo, de metralhas. Não tinha um só metro quadrado de concreto, ou de pedras portuguesas, ou de outro revestimento. Nada. Ela fica na esquina daquela Avenida com a Rua Jornalista Guerra de Holanda, em frente ao Museu do Homem do Nordeste, onde funciona o Cinema do Museu. E no terreno dessa calçada – onde há um casarão antigo, abandonado e em ruína – foi erguida uma estrutura para comportar banda e convidados. Foi improvisada uma bilheteria e local para se sambar. Ou seja, uma Casa Noturna, chamada de Sambinha do Poço. Fiquei a imaginar a garotada chegando, com as meninas de salto alto, alguns que parecem agulhas, andando nessa calçada e como ficariam, como eu, depois daquele tombo.

De salto, andando por ali, não há como não cair. Ainda mais depois  de noitada com cerveja, uísque, caipirinha. Hoje,  de manhã, quando passei por ela, onde me demorei menos de cinco minutos, foi suficiente para ver o tamanho do estrago em quem também não está de salto alto. Um homem tropeçou em uma pedra, e preferiu andar no meio da rua, disputando espaço com os carros. Também passou uma moça com um cachorro, e optou pelo asfalto. Tanto ela quanto o animal evitaram a calçada. Agora pergunto: como se dá licença a uma casa noturna com uma calçada daquela? Alô, alô, Dircon, como é que fica isso? Aliás, ali tem outro problema. Quem está saindo do Cinema do Museu, conta com uma faixa de pedestre, meio apagada, mais faixa. Pois como não tem sinal, os motoristas selvagens só faltam passar por cima das pessoas. Depois que o pedestre chega do outro lado, vejam a calçada que ele tem para se “equilibrar” no meio de tantas metralhas.

Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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