Hoje estava caminhando, quando vejo um senhor com um cachorrinho. Ele usava tênis, camisa regata, bermuda, boné de grifes caras. Aproveitava o sol da manhã, para andar com o animal. Mas se a roupa era de “gente fina” – como se falava antigamente – o mesmo não pode se dizer de sua cidadania. O cara parou na minha frente, deixou o cão fazer o “serviço” e deixou o cocô na calçada. Aí, quando cruzei com o homem, disse para ele. “Seu cachorrinho é lindo, mas o senhor… que coisa feia, deixar a porcaria no meio da rua”.
Ele ficou envergonhado, pelo que observei. E respondeu: “Vou ali no posto de gasolina, pegar um papel para recolher”. Claro que era mentira. Já me disseram que qualquer dia levo um fora por conta disso. Posso até levar. Mas a gente tem que constranger os porcalhões. Só assim, quem sabe, tomam jeito. Dia desses, no calçadão de Boa Viagem, seis rapazes conversavam, animadíssimos Tinham entre 20 e 30, a julgar pela aparência. Bebiam cerveja, e jogavam as latinhas para cima. Tudo caindo ali, na calçada, no pé deles.

Quando passei, recolhi todas as latas. “Dá licença, vou apanhar para botar no lixo, para que ninguém pense que jogar aqui é correto”. Ficaram mortos de vergonha. Pediram desculpas, me ajudaram a catar as latas. Pois minha amiga, a artista plástica Lorane Barreto – que tem um ateliê próximo à minha casa – resolveu arranjar um meio de constranger o pessoal que emporcalha a área, sejam civis ou militares (há um quartel na Praça de Apipucos). Lorane juntou as garrafas, pendurou em uma tira de plástico – dessas usadas para isolar áreas – e ainda deixou um recado. “Não bote lixo no chão”.
Mas a “intervenção” não adiantou muito. Todos os dias, quando não é a Emlurb, somos nós, alguns moradores que colhemos os “presentes” deixados por gente sem noção. O que se vê mais no chão é garrafa Pet de montão. Em uma segunda-feira, cheguei a recolher mais de 40. Também vemos: quentinhas abertas com comidas estragadas, sacos plásticos que cobrem botas de quem anda de moto em dia de chuva, copos descartáveis, carteiras de cigarro, cocô de cachorro, latas, embalagens de biscoitos e salgadinhos. E até papel. Muito papel picado. Pode um negócio desse? Depois ainda tem gente que critica limpeza pública. Será que na casa desse povo sem noção o lixo e o caca de cachorro ficam na sala?
Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife