Depois da “Calçada da Fama” será que o Tribunal de Justiça vai instituir um “tapete vermelho”?

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Virou motivo de chacota entre os meios jurídicos e entre a população – inclusive nas redes sociais – a iniciativa do Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Desembargador Ricardo Paes Barreto, que anunciou nesta semana que vai fazer uma “calçada da fama” do poder judiciário. Ou seja, um modelo igual ao que existe em Los Angeles (EUA), onde os artistas mais famosos do mundo deixam lá o molde das mãos. Já estive no local, no Hollywood Boulevard e achei um dos  mais sem graça de toda a viagem.  No caso do Recife, a “assinatura” não seria de ídolos do cinema brasileiro, mas sim de todos os presidentes daquela Casa. O Desembargador só não disse se vai instituir, também, um “tapete vermelho”igual ao usado na cerimônia do Oscar, para dar passagem aos “astros” e “estrelas” do judiciário pernambucano.

De tão curiosa, a iniciativa já rendeu até notícia nacional, em algumas emissoras de TV. Sinceramente, o TJPE deveria mesmo era arranjar meios de tornar mais rápida a tramitação do processos, pois as queixas sobre a morosidade é muito grande. Até porque em 2023, o Conselho Nacional de Justiça divulgou um levantamento que indica ter o TJPE “o segundo pior índice de produtividade do País (53 por cento)”, só perdendo para o do Acre (57 por cento). Em todo caso, vamos continuar acompanhando, para ver o que acontece. Se essa esdrúxula iniciativa vai mesmo ser concretizada. O Desembargador anunciou a medida em entrevista ao Jornalista João Alberto, na TV Jornal. Recentemente o TJPE divulgou que vai adotar a Praça Dezessete, que fica no bairro de Santo Antônio, e que há anos amarga o abandono e a decadência. Como adoro praças, acatei a medida. Achei legal a Dezessete ganhar um “pai adotivo “.

Qual selfie ficará mais bonita junto no Palácio da Justiça: o canteiro de antúrios, ou a calçada da fama?

Mas nem todos pensam assim. “Seria bom que a adoção fosse por iniciativa privada. A rigor, os custos com a reurbanização serão públicos: a verba do TJ vem do estado. Seria ótimo que os juízes e outros integrantes assumissem e adotassem a praça. Seria meritório e exemplo de cidadania”, comenta a jornalista e professora Tereza Frazão, residente em Brasília, ao tomar conhecimento da “adoção” da Praça Dezessete. Que diria, então, a população com a calçada da fama que, no caso do Recife, seria a “calçada do ego”?  Falando em TJPE gosto mais é dos jardins do seu entorno, que estão cuidados, coloridos por antúrios e outras plantas decorativas, quando antes não eram bem cuidados. Tem gente que para na calçada só para fazer selfies. Será que as futuras estrelas da calçada serão transformadas em atração turística, como prevê o Presidente? Ou serão fotos alvos de piada?

O prédio do TJPE é muito bonito, datado do início do século passado, e contribui para tornar a Praça da República um lugar muito especial, com seu baobá gigante, e o projeto paisagístico datado de 1936 com a assinatura de ninguém menos que o paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994).  E com edifícios como o Palácio do Campo das Princesas (1841), o Teatro Santa Isabel (1850), o Liceu de Artes e Ofícios (1880) e o próprio Palácio da Justiça (1930). Este tem a assinatura do arquiteto Giácomo Palumbo (1891-1966), tido como o mais importante protagonista da arquitetura no Recife, entre as décadas de 1920 e 1930. Além da sede do TJPE, são do mesmo arquiteto, o Grande Hotel do Recife (hoje ocupado pelo Fórum Tomás de Aquino), a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, o Hotel Central e o Hospital Centenário (hoje transformado em Hospital dos Servidores do Estado).

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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