Nesses tempos de Operação Lava Jato, nada como discutir o desvio do dinheiro público. Prática que não é de hoje. Logo mais, à noite, participo de debate na Universidade Católica de Pernambuco, após a exibição do documentário Pedro Jorge, uma vida pela justiça, no qual sou uma das pessoas entrevistadas. O documentário foi produzido pelo Ministério Público Federal da Quinta Região e Unicape. A equipe responsável pelo vídeo esteve em minha residência, para que eu falasse sobre a experiência daquela cobertura, quando a imprensa sofreu muita pressão. Ameaças de morte, inclusive. Já exibido no Cinema São Luiz, no mês passado, o vídeo assinala os 35 anos do assassinato do Procurador, que foi morto a tiros, no dia 3 de março de 1982, depois de denunciar 25 envolvidos no chamado “Escândalo da Mandioca”. Para os que não lembram, o “Escândalo da Mandioca” foi uma fraude milionária praticada contra a agência do Banco do Brasil, no município sertanejo de Floresta, localizado a 430 quilômetros do Recife.
Os acusados eram políticos, fazendeiros, militares, pessoas de famílias tradicionais da região e até servidores do próprio BB. A fraude funcionava assim: os “clientes” do Banco solicitavam financiamento para o plantio de mandioca. Não plantavam nada, aplicavam o dinheiro na compra de mansões, carros importados,casarões luxuosos, fazendas. Depois, alegando que a seca destruíra toda a lavoura, ainda recebiam dinheiro do seguro agrícola. A quantia desviada chegava a CR$ 1,5 bilhão, muito dinheiro quando a nossa moeda ainda era o cruzeiro. Vivíamos naquele tempo uma ditadura, não tínhamos as redes sociais de hoje. E, com certeza, os larápios achavam que ficariam impunes.

Mas Pedro Jorge denunciou bravamente os responsáveis, e pagou um preço muito alto pela sua valentia. Foi assassinado, quando saía de uma padaria, em Olinda. Como a fraude tinha muito peixe graúdo, houve muito pauzinho sendo mexido na Justiça. Pressões vinham de todos os lados. E tanto é assim, que, ao morrer, Pedro Jorge não sabia que tinha sido afastado do cargo. Pior, o então Procurador Geral da República, Inocêncio Mártires Coelho, ao chegar no Recife – no meio da confusão – ainda disse que Pedro Jorge tinha sido “açodado”, ao denunciar a quadrilha. Um horror.
Como repórter do Jornal do Brasil – um dos veículos poderosos da época – acompanhei todo o caso, inclusive o momento em que os acusados do assassinato foram impronunciados pelo Juiz Federal Genival Matias. O que, claro, significou um segundo escândalo. Felizmente, como diz o ditado popular, a justiça tarda, mas não falha. E muita gente foi parar atrás das grades. Pedro Jorge virou mártir da Justiça. Foi o primeiro Procurador da República assassinado no Brasil, por ter cumprido sua missão perante a Justiça. Durante o acompanhamento desse processo, muitos fatos me intrigaram como repórter. Já relatei partes dele no lançamento do vídeo, no Cinema São Luiz, no último dia 27 de março. Falo novamente deles no auditório do primeiro andar do Bloco G da Católica. Estarei ao lado de Gilberto Marques (advogado da família da vítima), do Irmão Irineu Marinho (do Mosteiro de São Bento) e ainda da Procuradora Dalva Almeida. Às 19h. Vá prestigiar.
Serviço:
Exibição do vídeo: Pedro Jorge, uma vida pela Justiça
Local: Universidade Católica de Pernambuco, Bloco G, primeiro andar
Horário: 19h
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife