Enfrentando invasão de suas terras, a presença e grileiros e a violência – tudo com a conivência do governo – os povos indígenas são, na verdade, responsáveis por retardar a destruição da Amazônia. São, também, agentes de preservação de uma cultura ancestral que sobrevive, ainda hoje, apesar da pressão dos brancos, desde os tempos do Brasil Colônia. E, hoje, eles usam novas tecnologias para documentar, preservar e resistir.
E entre esses exemplos encontram-se Ziel Karapató e Kleber Xucuru. Ziel, que participa uma individual no Recife, é alagoano da comunidade Terra Nova, em Alagoas. Ele é artista visual, performer, realizador audiovisual e arte educador em sua comunidade. Kleber Xucuru é diretor, câmera, editor, roteirista e produtor do Coletivo Ororubá Filmes, Pesqueira, Pernambuco. Ambos contam suas experiências ao participarem, às 19h dessa terça-feira (19/4) de live no programa Cultura em Rede, tendo como tema
Abril Indígena – Arte e Resistência. Tema muito oportuno, não é mesmo? Até porque resistir tornou-se mais do que necessário. Ficou essencial, questão de sobrevivência.

Ziel Karapotó é conhecido pelo especial para TV Falas da Terra. Até o dia 31 de abril, seu trabalho de artista pode ser visto na Galeria Christal, no Pina, na mostra Como fumaça. É o primeiro artista indígena a ter uma exposição individual no Recife. Mas no momento, ele está no Reino Unido, a convite da Universidade de Manchester, para participar do Festival Latino Americano de Arte Antirracista e Decolonial. É de lá que o multiartista irá conversar sobre ser autor das próprias narrativas em contraste com as produções etnográficas e antropológicas e o desafio de estar inserido no campo das artes visuais e das artes plásticas. ” Acredito na arte, na ciência dos meus ancestrais e no meu corpo como ferramenta discursiva de resistência e força anticolonial”, diz.
O Coletivo Ororubá Filmes é um dos oito grupos audiovisuais indígenas existentes em Pernambuco. Surgiu no final de 2008, a partir de uma oficina de audiovisual articulada pelo Cacique Marquinhos Xucuru, liderança indígena de Pernambuco. Kleber Xucuru tem atuado enquanto pesquisador local da Fiocruz. Dia do indígena é todo dia, mas no dia 19 é “aproveitado o espaço, porque aumenta a visibilidade e é oportunidade de quebrar a visão estereotipada, principalmente sobre os indígenas do Nordeste, que foram os primeiros a receber os impactos da invasão portuguesa”, observa Kleber. “O indígena pode estar onde quiser, sem perder as raízes”. E aconselha: “Utilizar o que temos de mais moderno das tecnologias para fortalecer o que temos de ancestralidade, nossa visão, nosso modo de vida e a defesa contra os diversos ataques, como os que estão tramitando no Congresso, feitos não só aos povos indígenas mas a todos os brasileiros”, conclui o realizador.
O Cultura em Rede é realização da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), com transmissão ao vivo pelo Youtube e Facebook. A mediação será de Vincent Carelli, indigenista, cineasta e criador da escola de cinema Vídeo nas Aldeias, que formou inúmeros realizadores indígenas na Amazônia. Entre os seus filmes, estão a a trilogia: Corumbiara (sobre o massacre de índios isolados, 2009), Martírio (sobre o genocídio Guarani Kaiowa,2016), e Adeus Capitão (narram suas memórias de indigenista e cineasta, 2022). Este último participou do 27º Festival É Tudo Verdade, o mais importante no campo do documentário no Brasil.
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Serviço
Live “Abril Indígena: Arte e Resistência”
Quando: 19 de abril de 2022 (terça-feira), às 19h
Com: Ziel Karapotó, Kleber Xukuru e Vincent Carelli (mediação)
Transmissão: www.youtube.com/SecultPE | www.facebook.com/culturape
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação