Contra “fake news” e o discurso de ódio

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Estamos em uma era complicada. A informação nos chega com a velocidade da luz e, muitas vezes, é transmitida sem que seja, sequer, checada. Até mesmo por  veículos  maiores de comunicação. A produção e o acesso à informação também estão mais democratizados. Qualquer pessoa produz conteúdo e coloca nas redes sociais. Todo mundo virou “digital influencer”. Já perdi as contas das vezes que vejo no noticiário que “digital influencer” foi preso (a) por tráfico de drogas, por crimes de estelionato, por golpes do tipo “Boa noite Cinderela” e até mesmo por apologia ao nazismo.

Além disso, é raro o dia em que a população não se defronta com algum tipo de fake news. Fake news são hoje tão comuns, que são usadas  até mesmo porque deveria combatê-las: os canais oficiais em várias esferas, com destaque para o governo federal e o seu gabinete do ódio. E o fato  é tão grave, que tem até processo rolando no Supremo Tribunal Federal, para investigar o Presidente da República. Ou seja, a coisa é séria.

Na década de 1960, um grande jornal publicou fotos de bacamarteiros como se fossem “guerrilheiros” comunistas.

Em Pernambuco, tem o Dia Estadual da Fake News (comemorado a 24 de março), data instituída através de projeto de lei de autoria do Deputado João Paulo (PT), aprovado em 2020. Além dessa lei, tramitam outras sobre o tema na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Um projeto de resolução, também de autoria do petista, retira a imunidade parlamentar de deputados que proferirem discurso de ódio e disseminação de notícias falsas no Estado.

Há, ainda, uma outra matéria – de autoria do mesmo parlamentar –  aprovada na Casa e já sancionada pelo Executivo que proíbe o poder público de contratar publicidade de veículos de informação condenados por divulgação de fake news. É a Lei número 17.197, em vigor desde abril de 2021.  “A lei é uma forma de evitar que o dinheiro público seja usado para fortalecer sites, blogs ou qualquer outra plataforma, impressa ou digital, que espalhem mentiras”, afirma o petista.

Em  Pernambuco, há três casos célebres de notícias mentirosas. Na década de 1960, no auge da efervescência de movimentos sociais como as Ligas Camponesas, em defesa da reforma agrária, um jornal do sul do país publicou fotografias de bacamarteiros como se fossem “guerrilheiros de Arraes”. Miguel Arraes, então Governador de Pernambuco, era combatido pelas forças conservadoras e foi deposto pelo golpe militar de 1964. A segunda fake new foi oficial. Na década de 1970, o governo estadual construiu uma barragem, a de Tapacurá, sobre a qual dizia a propaganda oficial: “Cheia, só se o recifense deixar a torneira aberta”. O Palácio do Campo das Princesas assegurava que a represa garantiria abastecimento e conteria as enchentes do Capibaribe, o que não ocorreu. Em 1975, o Recife enfrentou a maior enchente de sua história. Quando a água baixou, alguém divulgou que  “Tapacurá tinha estourado”. Estabeleceu-se o pânico, e o Recife virou um filme de terror, com gente desorientada correndo em todas as direções, apavoradas com o dilúvio que viria.

Em Pernambuco,  todas iniciativas ficam nos limites do estado, mas que – pelo menos – inibem o situações como o descalabro que tem se verificado nessa área, no governo federal, onde fakes news são usadas sem cerimônia. Na Alemanha nazista, Joseph Goebbels –  Ministro da Propaganda de Hitler, a besta-fera – dizia que uma mentira dita mil vezes se tornava verdade. Talvez seja esta uma das táticas adotadas pelas fake news disseminadas pelo Gabinete do Ódio e seus asseclas, em Brasília.  Fake news, no entanto, não chegam a ser propriamente uma novidade, como vocês bem observam  na Alemanha nazista, e nos três casos acima  ocorridos em nosso estado.  Porém com a Internet, elas correm com velocidade da luz, o mesmo não acontecendo com os desmentidos e as  clássicas “notas de esclarecimento”.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Alepe / Divulgação e Letícia Lins / Acervo #OxeRecife

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