São tantas as espécies da Mata Atlântica que estão em risco, que dá até tristeza falar nisso. Tivemos o exemplo do Pau-brasil, que só não sumiu de vez graças ao esforço de um lutador, o professor pernambucano Roldão de Siqueira Fontes (1909-1996),que no século passado fez da sua vida um sacerdócio em defesa da árvore, e que a disseminou bosques pelo Brasil, fazendo-a ressurgir do quase nada. Outra planta que inspira cuidados é a Juçara, espécie nativa e simbólica do bioma que está em risco de extinção. Tudo por conta da exploração do palmito, que ocorre de forma predatória há quase 200 anos.
Agora a maior reserva particular de Mata Atlântica do Brasil, o Legado das Águas, acaba de anunciar um projeto de recuperação da Palmeira Juçara (Euterpe edulis). Há cerca de três décadas a árvore passou a ser protegida, o que infelizmente ainda não tem sido suficiente para sua conservação. A palmeira tem características que fazem dela uma planta muito especial. Por exemplo, produz frutos no inverno, o que a torna fundamental para o equilíbrio do bioma. Pássaros, como os araçaris (gênero Pteroglossus) e algumas espécies de tucanos, além de outros animais, valem-se deles em uma estação com poucas opções de alimento. E, por sua vez, realizam a distribuição de suas sementes, colaborando para o reflorestamento. O fruto, um coquinho, lembra o açaí amazônico, e sua exploração pode ser tão rentável quanto a do próprio açaí. Tanto que já tem até empresa anunciando o juçaí.
A Reserva está iniciando um projeto para repovoar seu território com a palmeira, em uma iniciativa fundamental para conservá-la. Para isso, está sendo feito um mapeamento do território, com a localização dos espaços onde serão plantadas novas mudas. O Legado das águas tem mais de 35 mil hectares e fica no Vale do Ribeira, em São Paulo. Ali, as palmeiras serão utilizadas exclusivamente para a extração de seus frutos, e não do palmito. E o processo será realizado de maneira estruturada, por meio de manejo sustentável, com o objetivo de promover o repovoamento da Juçara. “O objetivo é que, daqui a sete ou oito anos, essas novas mudas comecem a produzir frutos, e uma cadeia produtiva sustentável seja criada, envolvendo a comunidade e oferecendo ao mercado um produto de qualidade”, afirma João Francisco Whitaker Gonçalves Dias, Coordenador de Negócios das Reservas Votorantim.
Ele informa que, para garantir a conservação da espécie, apenas um terço das frutas produzidas serão colhidas e utilizadas, tanto para a produção da polpa (que se encontra em volta da semente), quanto para o plantio de novas mudas. Os dois terços restantes ficarão nas árvores, de modo a servir de alimento para aves e animais, que vão contribuir para a dispersão da Juçara em outras áreas. O plantio será realizado com as mudas espalhadas em meio à mata, pois a Juçara não pode ficar exposta diretamente ao sol e precisa ser protegida pela sombra da vegetação nativa para seu desenvolvimento. A ação terá início no próximo mês de outubro, considerando o regime de chuvas. Posteriormente, será estendida para áreas externas à Reserva, envolvendo outros agentes e comunidades, para escalar a cadeia produtiva formada.
O Legado das Águas informa que investirá na criação de uma casa focada exclusivamente no processo do despolpamento. No curto prazo, a polpa estará disponível para consumo por visitantes e turistas da Reserva. Mas, a julgar pelo que informa os dirigentes da Reserva, a meta é produzir para todo o país, já que o fruto tem um potencial comercial tão grande quanto o açaí. “No longo prazo, queremos gerar um produto que seja fruto de uma cadeia produtiva sustentável, gerando valor compartilhado e envolvendo diversos atores em prol da conservação da espécie e, consequentemente, da proteção do bioma”, complementa João. O Legado das Águas fica no no sul do Estado de São Paulo e possui 31 mil hectares. E busca aliar a conservação da natureza ao desenvolvimento econômico.Em sua área vêm sendo desenvolvidas várias pesquisas científicas, inclusive com publicações internacionais.
Abaixo, confirma postagens sobre o Legado das Águas e curiosidades sobre outras espécies de palmeiras e outras árvores.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Luciano Candisani /Legado das Águas / Votorantim