Houve um tempo em que não existia televisão nem Internet e que as populações do interior não tinham, sequer, dinheiro para comprar um rádio. Nessa época, que se estendeu até o século passado, a notícia costumava chegar aos engenhos, sítios e fazendas pela literatura de cordel que mistura a realidade com a fantasia, a dureza da vida com a mágica dos versos e rimas. O mundo mudou. A notícia hoje corre com a velocidade da luz mas, nem assim, o cordel acabou. Ao contrário, ainda alimenta o imaginário da população, principalmente no Nordeste.
Na falta de escolas, como era comum antigamente, o cordel chegou a servir até de cartilha, como é o caso de J.Borges, um dos artistas populares mais reconhecidos do Brasil. Ele conta que foi por intermédio dos folhetos que aprendeu a ler. E foram eles, também, que lhe levaram a descobrir sua vocação de artista. J.Borges é um mestre da xilogravura, reconhecido em todo o mundo. Esse “preâmbulo” é só para dizer que a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) está com uma ação promocional para os leitores batizada de Cordéis do Pajeú. Funciona assim: Você compra um dos três livros da Coleção Pajeú (Cepe Editora): Meu eu sertanejo, Mesas de Glosas da 1ª Feira de Poesia do Pajeú, e Redes de Poesia. Aí tem direito a ganhar também três folhetos de cordel selecionados pelo conselho editorial pajeuzense.
São eles: Comadre Florzinha (foto maior) e o Caçador (ambos de Wellington Santos Rocha); A Incrível História do Menino Mandacaru (de Odilia Renata Gomes Nunes); e Gênesis, a origem do cangaço feminino (de Thaynnara Alice Queiroz Pessoa). As ilustrações foram criadas pelo gráfico, poeta e artífice Lourenço Gouveia. A Coleção Pajeú foi lançada em junho de 2020, com seleção sob responsabilidade do Conselho Editorial do Pajeú, formado por poetas da região e criado durante a 1ª Feira da Poesia do Pajeú. Realizado pela Cepe em julho de 2019, em São José do Egito, o evento foi um grande sucesso. Tinha que ser mesmo. O município – fica a 400 quilômetros do Recife – e está encravado no Sertão do Pajeú, que é um celeiro de poetas populares e onde a tradição oral ainda é muito forte. As oficinas de xilogravura foram disputadas.
O presidente da Cepe, Ricardo Leitão, já anunciou que em 2022 a feira terá sua segunda edição. “Essa ação na região do Pajeú é resultado de uma missão cultural que a empresa tem de resguardar e ampliar o conhecimento sobre o maior pólo de poesia oral do País. O primeiro ano foi bem-sucedido com a publicação de três livros e três cordéis, o que nos estimula a repetir esse mesmo trabalho em 2022 com essencial apoio dos poetas do Pajeú”, afirma Leitão. Em 2020 e 2021, os eventos externos da Cepe foram prejudicados pela pandemia, mas a programação editorial não sofreu prejuízo. O Secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, ressalta a importância de difundir e registrar a cultura do cordel, que diz muito sobre a história do estado, do Nordeste, do Brasil. Mas sobretudo de Pernambuco.
“O ciclo das navegações traz de Portugal o ciclo das trovas, da história cantada e levada em cima do lombo de cavalos e de burros. E essa tradição da história oral se transforma em grandes representações da nossa cultura “, afirma o Secretário Estadual de Cultura, Gilberto, Freyre Neto. Lembra que o Pajeú ganhou referência “como grande recanto da poesia cantada e escrita da forma mais tradicional, ou seja, como era cantada e falada nos séculos XVI e XVII”. Ele diz ser preciso valorizar essa cultura. “E essa preciosidade que nós temos hoje em cidades desse nosso território rico merece toda a nossa atenção, todo o nosso registro. O cordel nada mais é do que o reflexo de um passado breve que deixa um legado rico da nossa cultura mais original, vinda da trovada dos diversos ibéricos do ciclo pós-Renascimento. É nossa história traduzida em ritos qualificados do nosso português mais arcaico e mais bem falado”.
Abaixo, você confere outros links sobre Literatura de Cordel e também sobre outras promoções da Cepe.
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Serviço:
O quê: Cordéis do Pajeú
Promoção: Na compra de um dos três títulos da Coleção Pajeú –Mesas de Glosas (R$25), Meu eu sertanejo (R$ 25), Redes de poesia (R$ 40) o leitor leva três cordéis: Comadre Florzinha e o Caçador, A Incrível História do Menino Mandacaru, e Gênesis, a origem do cangaço feminino.
Onde comprar: Lojas físicas da Cepe. Sede (Rua Coelho Neto, 530, Santo Amaro); Centro de Artesanato de Pernambuco (avenida Alfredo Lisboa, S/N, Bairro do Recife), Mercado Eufrásio Barbosa (Varadouro, Olinda). Há, ainda, uma loja no Museu do Estado, na Av Rui Barbosa, mas a instituição está fechada desde o início da pandemia.
Ou na loja virtual da Cepe: cepe.com.br/lojacepe.
Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Cepe