Depois de acolher, em apenas três anos, cerca de 30 mil bichinhos – perdidos, criados ou vendidos ilegalmente – o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Pernambuco (Cetas Tangara) está funcionando em terreno próprio. A área de 3,6 hectares agora pertence à Agência Estadual de Meio Ambiente (Cprh), a quem cabe, por lei, a responsabilidade de receber, tratar e devolver à natureza aves, mamíferos, répteis entre outros animais. Se necessário, até repatriá-los. Seja para o Cerrado ou para a Amazônia.
A aquisição do terreno assinalou os 43 anos de fundação da Cprh, que teve até bolo confeitado. Na cerimônia, marcada pela informalidade, o Presidente da Agência, Djalma Paes, recebeu a escritura do imóvel. E a turma aí da foto abaixo, não poderia deixar de comemorar. São todos servidores do Cetas, que funciona há três anos, e se localiza no Km 8 da Estrada da Mumbeca, no bairro de Guabiraba, Zona Norte do Recife. Antes, os animais apreendidos ficavam sob responsabilidade do Ibama, mas o órgão federal não tinha área adequada, os bichos penavam em pequenas jaulas e houve casos até de mortes e doenças provocadas pelas precárias condições de acolhimento. Detalhe: a aquisição do terreno nem trouxe custo extra aos cofres públicos, já que foi efetuada com recursos provenientes de compensação ambiental.
Já estive no Cetas, onde presenciei dedicação da equipe no trato com os animais. Fui até a incubadora, ver uma preguicinha que se perdeu da mãe. Ali, são realizados diferentes tratamentos e a reabilitação dos animais, até que eles estejam em condições de retorno à natureza. Dos 30 mil animais que já passaram pelo Cetas, pelo menos 90% são pássaros, alguns ameaçados de extinção. Mas chegam também saguis, tamanduás, jiboias, jabutis, “Até uma onça, resgatada quando filhote, está sendo cuidada no Cetas”, lembra Paes.
Conheço a oncinha. É um macho, chamado Diego. Vi quando era bebê, mas está um rapaz se preparando para voltar à caatinga, onde foi achado desgarrado da mãe. Coisa fofa. Além dos silvestres endêmicos do Nordeste, no Cetas também estão animais de outras regiões do País, como araras e tucanos que retornarão aos seus estados, nos chamados processos de repatriamento. De acordo com o gestor do Cetas Tangara, Yuri Valença, por conta do tráfico de animais silvestres, muitos chegam ao Cetas em estado crítico de saúde.
O Cetas conta com o gestor, dois biólogos, dois veterinários, oito tratadores e dois manipuladores de alimentos. Conheço o terreno onde funciona o Cetas, desde o tempo em que abrigava um “Criadouro” legalizado pelo Ibama. Chamava-se Chaparral, onde havia aves raras inclusive a ararinha azul (Cyanopsitta spixii) , hoje extinta na natureza e que poderia estar voando aos montes, nos céus do Curaçá, no Vale do São Francisco, se não fosse o tráfico alimentando pela ganância de “criadores” e “colecionadores”.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Foto: Letícia Lins e Divulgação/ Cprh