Com pandemia, o Recife fica sem procissão dos santos juninos

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Em 2019, foi  linda a Procissão dos Santos Juninos, aquela que é uma das mais bonitas manifestações do São João, no Recife. É assim: Várias agremiações culturais (como os bacamarteiros, trios de forró, quadrilhas) se concentram no Morro da Conceição, onde participam de cerimônia religiosa, sob o som da zabumba, da sanfona e do triângulo, que normalmente acompanham um cantor convidado, que escolhe alguma música do repertório nordestino. Uma das preferidas é a Ave Maria Sertaneja, um dos sucessos de Luiz Gonzaga.

Depois,  com as bandeiras e andores de cinco santos, o cortejo desce o Morro até o Sítio Trindade, onde elas são depositadas em homenagem a São João. A  cerimônia acontece em frente ao casarão do Sítio. Em 2020, a festa foi virtual. Mas, claro, não tem a mesma graça. Porque ao vivo, o cortejo é grande e animado pela Forrovioca. No caminho, os bacamarteiros efetuam, também, os seus disparos, avisando ao povo que a festa está passando, pelas ruas do bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Segundo o principal organizador da Procissão, Marcelo Varela, além de Santo Antônio, São João e São Pedro, na procissão constam, também, bandeiras de Santana (a mãe de São João) e São José (pai de Jesus).

À primeira vista, São José não teria nada a ver com a festa junina. Até porque o dia a ele dedicado é em março. Mas tem, sim, segundo Marcelo. “Ele é incluído na procissão, porque é no Dia de São José, que começa o plantio de milho, produto tão presente na gastronomia junina”, conta. Nesse mês, está em exposição o São João Cultural, no Shopping Recife. Na mostra, com curadoria da Vila 7 (by Juliana Lins, filhota aqui da blogueira), eu conto um pouco da história dos três principais santos juninos. Vale a pena conferir. A exposição está muito bonita, e didática, abordando os significados da festa, os três principais santos juninos (e também tem um setor sobre o Cais do Sertão e Luiz Gonzaga, vida e obra).

Veja, abaixo, um resuminho sobre Santo Antônio, São João e São Pedro.

São João é o mais famoso santo do período  junino. Tanto que, no passado, as festas a ele dedicadas eram chamadas de joaninas. É protetor dos casados e enfermos. Considerado como o primeiro mártir da Igreja Católica – foi decapitado – é tido, também, como o último dos profetas. Foi ele que anunciou a vinda do Messias (Jesus Cristo). Atraía multidões ao Rio Jordão, onde batizava aqueles que se arrependiam dos seus erros. Ele é festejado em 24 de junho, dia de sua morte. Mas a tradição da fogueira acesa um dia antes tem a ver com seu nascimento.

A sua mãe – Isabel – fez um fogueira para avisar a Maria (mãe de Jesus) que o seu filho João tinha nascido. Isabel e Maria eram primas. O costume de acender a fogueira no Brasil foi trazido pelos jesuítas.  Depois, essa prática foi associada a outras tradições, como as quadrilhas, que herdaram elementos dos bailes populares da França. Posteriormente, apareceriam o forró, o xaxado.

Santo Antônio é comemorado em 13 de junho, dia de sua morte. Entre os católicos, é tido como milagreiro. Pertencia a uma família rica, mas optou pela pobreza. Nasceu em Portugal, fez pregações nos desertos da África e morreu na Itália aos 36 anos. Os fiéis acreditam que, guardado, um pão distribuído nos templos a ele dedicados tem o poder de garantir fartura por um ano. Santo Antônio é tão popular em Lisboa, que lá as festas de junho são chamadas de antoninas. No Brasil, a sua fama é de santo casamenteiro. Tanto que em 12 de junho, à véspera do data a ele dedicada, comemora-se no país o Dia dos Namorados e a população faz muitas simpatias, para arranjar um bom casamento. Suas cordas vocais e sua língua “incorrupta” encontram-se guardados e intactos em relicários dourados, na Europa.

Elas nunca se degeneraram. Os católicos acreditam que é porque Santo Antônio nunca mentiu. Curiosidade: Em Igarassu, Pernambuco, Santo Antônio já teve patente de soldado, tenente e até mandato de vereador, com direito a salário, doado a instituições de caridade.

São Pedro é festejado em 29 de junho, data de sua morte. Nesse dia, em quase todo o Brasil, há muitas procissões marítimas ou fluviais em sua homenagem, pois ele é tido como o padroeiro dos pescadores. Isso porque – antes de ser apóstolo de Jesus – o santo exercia essa profissão no Mar da Galileia. Ele foi o primeiro Bispo de Roma e por esse motivo é considerado o primeiro Papa da Igreja Católica. Curiosidade: São Pedro é tido como o Porteiro do Céu. “Tu és Pedro e sobre essa pedra, edificarei minha igreja”, teria lhe dito Jesus que também lhe entregou as chaves do céu, do Reino de Deus. “A quem abrires, será aberto. A quem fechares,  será fechado”.  Na crença popular nordestina, é ele, também, que manda chover ou fazer sol.

“São Pedro abriu a porteira do céu”, costumam dizer os nordestinos, quando cai um aguaceiro.  No Sertão e no Agreste, no entanto, as chuvas estão associadas a São José. Os agricultores acreditam que se chover no dia 19 de março – data a ele dedicada –  os produtores terão inverno e boa colheita. É a data que se inicia o plantio de milho, para assar na fogueira de São João.

E já que é tempo de São João, um presente para você: o vídeo “Abraço Amarrotado”, com xote macio, bom para dançar.  Cantado por Carlos Filho. Ele integrará o CD “Outro amanhecer”, de Maurício Cavalcanti e Xico Bezerra. Confira. Acabou de sair do “forno”.

 

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Juliana Lins e PCR / Acervo #OxeRecife

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