Ciclo junino chega ao fim com apelo de forrozeiros pela manutenção de tradição do Nordeste

O ciclo junino está chegando ao final, com o balanço de grandes festas, arraiais gigantescos  – como o de Caruaru e o de Petrolina – e também com muitos questionamentos. É que à exceção do Recife, as cidades do nosso interior e também de outros estados (como Campina Grande, PB) abriram espaço maior para duplas “sertanejas”, ídolos do axé, astros do “piseiro” e outros gêneros musicais que não se enquadram muito bem nos propósitos da nossa festa tão nordestina, antes movida a baião, forró, xaxado. O #OxeRecife já se posicionou sobre o assunto, dando destaque inclusive para o bom exemplo do Recife, onde a prioridade foi para artistas que vivem desses ritmos e que o executam durante todo o ano, merecendo pois reconhecimento na grande festa, a mais popular dos estados nordestinos, inclusive Pernambuco, com certeza. É que embora no Recife seja o ciclo junino seja a segunda festa popular em animação  (pois só perde mesmo para o carnaval), em todo o estado é o São João que ganha porque é comemorado em todos os lugares, inclusive nas zonas ruais.

Algumas observações, no entanto, devem ser feitas: a primeira é a elitização e a espetacularização do São João, com venda de camarotes a preços proibitivos, como acontece em Caruaru, onde essa comercialização foi parar no Ministério Público. E  também com ações como a introdução de bar móvel  suspenso, como aconteceu em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, onde o arraial foi patrocinado pela Itaipava. O problema é que por trás dessas iniciativas gigantescas, há patrocínio de grandes empresas que impõem os artistas que lhes interessam. Em Petrolina, entre as 34 atrações selecionadas, não havia presença de grandes nomes que defendem o forró no estado. Ficaram de fora Jorge de Altinho, Maciel Melo, Flávio José, Petrúcio Amorim, Santanna, Alcymar Monteiro. Foram alijados, e substituídos por duplas “sertanejas” (como Henrique e Juliano, Matheus e Kauan, Bruno e Marrone). A segunda é que é preciso – urgentemente – a criação de leis que garantam espaço para artistas da terra nas festas populares. Por exemplo, porque o São João de Caruaru excluiu Jorge de Altinho da programação? É  justo encurtar um show de Flávio José para abrir espaço para Gusttavo Lima, como aconteceu em Campina Grande, na Paraíba? No mínimo uma falta de respeito com os verdadeiros defensores dos ritmos do Nordeste.

Junto com outros forrozeiros, Santanna levanta a voz com a “plastificação” do São João no Nordeste

Fiquei emocionada ao ver o desabafo de artistas com essa invasão indevida. Além de outros forrozeiros, o cantador Santanna também fez seu desabafo nas redes sociais. “Eu digo que às vezes fico preocupado por conta da força da grana que ergue e destrói coisas belas”. E acrescenta:

“Muito me preocupa que o São João, nossa festa tão tradicional e secular se transforme em festa paulista dentro do nosso mês de junho. Então o empresário, que  às vezes está por trás disso tudo, a única coisa que ele se interessa é pelo vil metal. É um direito dele. Agora o que me preocupa muito é que essa coisa de plastificar e trazer uma coisa que não é de nossa tradição, não é de nossa região, para tomar conta da nossa festa junina, deixada pelos nossos pais e nossos avós. Você que está me vendo e é jovem, respeito a sua opinião. Queria apenas que você ajudasse a manter a tradição. Porque uma “Nação” como o Nordeste só é respeitada por conta de suas tradições e sua cultura. Você pode até falar inglês, mas nunca deixa de ser um cabeça chata nordestino, como eu, que de vez em quando sai falando inglês, mas que faz oxente, vamos cuidar do que é nosso”.

Santanna pede atenção de secretários de cultura e prefeitos do Nordeste, para que ouçam o clamor dos forrozeiros da região. Que tomem “um pouquinho de simancol” e “respeite os artistas que construíram essa festa”. Para o cantador, “o ingrato é pior do que o ladrão”. E explica: “E a partir do momento que você exclui a cultura das nossas festas juninas, você não está sendo um ladrão mas um ingrato”. Já Petrúcio Amorim, também reclama. “O que acontece é que esses caras querem juntar dinheiro, não têm interesse cultural ou tradicional”. Ou seja, tirando o Recife, nas outras cidades “é uma dificuldade para chegar, para fazer um show é uma agonia”. E adverte:

A situação é triste tenho medo não só do meu trabalho, mas do pessoal que está chegando agora. É triste que queiram matar o forró da gente. Mas o forró é um ritmo que jamais morrerá, querem matar mas não vão conseguir, porque à gente está sempre à frente, criando, mostrando incentivando grupos novos que estão aparecendo. Eles não nos dão chances, mas a gente vai aparecer, sempre, com esta bandeira levantada.

Nos links abaixo,você confere mais informações sobre essa polêmica e outras sobre as tradições do São João. Confira, também, esse vídeo com repertório junino de Santanna

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Acervo #OxeRecife

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