Conheço bem o Poço da Panela, um dos bucólicos bairros da Zona Norte do Recife. Mesmo assim, há alguns dias, me entrosei com um grupo do Olha!Recife para andar pelas suas ruas arborizadas, contemplar o casario antigo e desfrutar de sua aparente paz. Terminamos, claro, indo parar na casa de José Mariano (1850-1912), jornalista, deputado por cinco mandatos, orador brilhante, abolicionista. Dizia Gilberto Freyre que era “o pernambucano mais amado das multidões”.
Tanto era assim, que no dia seu sepultamento, pétalas de rosas eram atirados dos sobrados por onde passava o cortejo fúnebre. Mas não era só ele. Além de lutar pela liberdade dos escravos (chegou a fazer parte do Clube do Cupim, que facilitava fugas dos negros cativos), José Mariano contava com o apoio de Olegarina, com a qual se casou aos 23, uma mulher tão generosa quanto ele. Conta a lenda que ao morrer de gripe, em 1898, Olegarina teria levado ex-escravos ao desespero. Alguns se mataram com veneno ou se jogando no Rio Capibaribe.
Ou seja, tanto ele quanto ela são duas figuras proeminentes da nossa história. E a casa onde residiram, no Poço da Panela, deveria, pelo menos, servir para preservar a memória de personagens tão distintos. Por boa vontade do sacristão Walter Araújo, pudemos entrar na casa (o que nunca fizera antes). Ela fica ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Saúde. Bingo! Na placa que vejo no terraço, uma informação que a torna o imóvel duplamente importante, do ponto de vista histórico.
E uma informação que eu não sabia, nem o grupo que estava comigo. “Nesta sala, em 1961, o educador Paulo Freire (1921-1997) criou o primeiro Círculo de Cultura, que deu origem ao seu método de alfabetização para adultos”, um método que tornaria o autor de Pedagogia do Oprimido famoso em todo mundo. A placa foi colocada lá em 2007 pelo então Prefeito do Recife, João Paulo (PT), para assinalar os dez anos da morte de Paulo Freire. Mais um motivo, portanto, para o imóvel se transformar em ponto de visitação. Ali deveria haver exposição permanente, indicando a importância do casal de abolicionistas e também do educador.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife