Em pleno período junino – no último dia 28 de junho – estive no Teatro Santa Isabel, para assistir Carmina Burana, concerto maravilhoso com a regência do Maestro Wendell Kettle, que nos proporcionou uma noite mágica, daquelas que fazem o coração da gente palpitar. Apesar dos tempos de sanfona e zabumba (a apresentação foi no mesmo dia do Desfile das Bandeiras), o teatro estava lotadíssimo, o que mostra o espaço grande que existe para o público de música erudita no Recife.
O problema, como sempre, ficou por conta do achaque e do comportamento agressivo de flanelinhas. Costumo chegar muito cedo aos locais de apresentação, por questão de segurança, para conseguir estacionamento o mais próximo possível. Ou vou em cima da hora, usando táxi ou algum aplicativo. Mas na última sexta, decidi ir de carro. Logo ao chegar perto do TSI fui cercada por três “profissionais” que brigavam pelo “direito” de tomar conta do meu carro. Depois, um deles queria que eu estacionasse em posição perpendicular ao meio fio. E, pior, no portão de saída do estacionamento do Teatro, com direito a receber adiantado.
Mas o espetáculo foi tão lindo, mas tão lindo, que esqueci até dos aborrecimentos. E está bom, que as pessoas que não têm trabalho precisam se virar, para ganhar algum dinheiro. Mas têm a obrigação de fazer isso sem ameaças ao cidadão que paga seu imposto e que tem o direito de escolher o local correto para estacionar seu veículo. Como me senti ameaçada, decidi estacionar em local mais distante e sem “aperreio”. Mas como cheguei um pouco tarde, só tive uma alternativa: a Rua do Imperador, que fica a uma pequena distância. Isso, quando ando por ali durante o dia. Porque à noite, a sensação era que o trecho era interminável, diante da segurança ameaçada.
É que as calçadas são escuras demais e não vi uma só viatura de polícia circulando na área. Depois de fazer o caminho por roteiro tão deserto e com iluminação escassa, me senti mais aliviada ao transitar pela calçada da Imperador para pegar o carro. É que estava diante da presença de dezenas de moradores de rua, que armavam suas “camas” para a noite provavelmente mal dormida. E que, ao contrário da exigência agressiva dos flanelinhas – “pague adiantado” – os miseráveis tiveram a dignidade de não me pedir nada. Nem um tostão de esmola. Conversei com alguns deles e deixei lá todo o trocado que tinha na carteira – R$ 5 – para que comprassem algum pão na manhã seguinte.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife