Caretas, caiporas e tabaqueiros

Na última quarta-feira, estava no Marco Zero, à espera de Zé PereiraVitalina, quando uma senhora, ao meu lado, indagava o nome de cada manifestação que aparecia no tapete vermelho do Cais do Sertão, onde era aguardado o mais antigo boneco gigante de Pernambuco, que veio da cidade sertaneja de Belém do São Francisco, para comemorar seu centenário no Recife. E chegou com a namorada, dez anos mais jovem, sendo recebido por nada menos de 25 gigantes de Olinda, em uma bela e inédita festa, no carnaval do Recife.

Antes da chegada dos históricos bonecos, no entanto, passaram pelo tapete passistas, reis e rainhas de maracatu (de baque virado ou africano), bois, caboclos de lança (do maracatu rural ou de baque solto), caboclinhos. São manifestações já conhecidas dos foliões do Recife que aguardavam os personagens ilustres, já que aqueles grupos são comuns no carnaval da capital do frevo.  Assim como já ficaram famosos os chamados papangus, de Bezerros, no Agreste de Pernambuco.

Com bonita fantasia, o relho e som estridente, o careta (de Triunfo) não é conhecido pelos foliões do Recife. (Foto LL)

Apesar de muitos populares, a senhora – pernambucana – me indagava, “e esse personagem, é quem?”a cada um que aparecia. Fui explicando, já que passei minha vida de repórter fazendo cobertura de tantos carnavais. E a curiosidade dela maior ainda foi quando apareceram os Caretas (de Triunfo) e os Caiporas (de Pesqueira). Pois, em 2019, descobri que tem mais uma manifestação  no interior que eu não conhecia: Tabaqueiros. Já ouviu falar? São personagens populares em Afogados de Ingazeira, que fica a 386 quilômetros do Recife, em pleno Sertão do Pajeú, região onde fica também Triunfo, dos misteriosos Caretas.

Eles usam máscaras industrializadas ou artesanais (de papel machê), andam com chicotes e macacões coloridos, amarram chocalhos na cintura e carregam um porta-tabaco, já que é muito comum no Sertão o hábito dos mais antigos de cheirar o tabaco (rapé). A julgar por essas explicações, fornecidas a pedido do #OxeRecife à Prefeitura, o tabaqueiros são uma mistura de caboclo de lança (porque usam chocalhos), com  caretas (devido aos chicotes) e papangus (por conta das máscaras). E, pelo rapé, devem ter alguma coisa a ver com os vendedores em fumo de corda, ainda muito comuns nas feiras do interior. O Secretário de Turismo de Pernambuco, Rodrigo Novaes – que é sertanejo – afirma que o folião do Recife precisa conhecer melhor a cultura do Sertão. Inclusive a carnavalesca. É mesmo.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Letícia Lins e Divulgação/ Prefeitura de Afogados

 

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