Caminhadas Domingueiras: “Olhem o Recife pelo que a cidade pode vir a ser”

Que bom que, com vacina no braço, todo mundo ficou mais animado para sair de casa. Com isso, estamos de retorno às saudáveis caminhadas a pé. Na semana passada, foi a vez do maravilhoso passeio Recife que te quero ver, baseado em foto poema de Hans Von Manteuffel. No sábado, o Grupo Bora Preservar fez um roteiro pelo sofrido bairro de Afogados, que terminou no Campo do Jiquiá, onde fica a única torre de atracação de zeppelins ainda de pé no mundo. E em cuja área já deveria ter sido implantado o Parque Científico e Cultural do Jiquiá, até hoje sem sair do papel.

Esse domingo  (10/04) foi dia da primeira edição de 2022 das chamadas Caminhadas Domingueiras, que são coordenadas pelo arquiteto, urbanista e consultor Francisco Cunha, nosso guia-mor nas andanças pelo centro da cidade e também por bairros vizinhos. Há quase duas décadas lutando pela revitalização do centro – inclusive como Consultor do Clube de Diretores Lojistas do Recife – Francisco  preparou um “Roteiro Recosturador”, com destaque para mais de 50 pontos do Recife Antigo, Santo Antônio e São José. É um roteiro que tem a ver com a integração desses bairros tradicionais, dos quais apenas o primeiro passou por processo de revitalização, e não sofreu os efeitos da descaracterização.

Primeira edição de 2022 das Caminhadas Domingueiras partiu da Praça do Arsenal, e teve como tema

Para o urbanista, a situação do bairro do Recife – Marco Zero, Rua do Bom Jesus, Rua do Apolo, Praça do Arsenal  entre outras vias –” já está resolvida”. No entanto, é preciso muito trabalho para “salvar” os dois outros, que enfrentam processo de esvaziamento e de “degradação acelerada”. Pediu, portanto, aos caminhantes, que olhassem a cidade “não como está, mas como pode vir a ser”. É que o Recife começa a se preparar para 2.037, quando aquela que é hoje a mais antiga capital no Brasil completa 500 anos.

Até lá, o centro tão abandonado hoje, deverá estar transformando, utilizando-se seus prédios como moradia, estimulando investimentos na área comercial e transformando-o em um local atrativo para o público. O que, temos que admitir, não será fácil principalmente devido à concorrência de shopping-centers e à cultura que se gerou que o centro virou um “lixo” e que não tem mais “segurança”, como é comum ouvir-se.  Porém agora, pelo menos, já existe o Gabinete Recentro, iniciativa inédita na Prefeitura do Recife. “É o primeira secretaria territorial da Prefeitura”, lembrou Francisco.  Ressaltando, portanto, ser a primeira criada “para cuidar de uma área específica’. Francisco lembrou que “me voluntariei” para atuar nesse processo de revalorização do centro, pelo qual luta há mais de 20 anos. “Vamos construir roteiro de recostura dessa território”.

Avenida Guararapes foi ocupada em clima de festa, como esforço para atrair o público ao bairro de Santo Antônio.

Realmente, já se percebe alguma diferença no centro. As pontes ganharam novo colorido,  as praças estão menos sujas do que na gestão passada, porém as marcas da miséria  podem ser vistas nas calçadas e sob as marquises, até mesmo de monumentos históricos: barracas em lona, plástico, miseráveis dormindo à beira do asfalto. Não será possível” reconstruir”, também, sem a existência de um trabalho social, que dê vida digna às populações de rua.

Nos bairros por onde passamos, também sobram marcas da gestão passada, a mais predatória que o Recife já teve. As intervenções da gestão anterior, infelizmente, só contribuíram para deixar o centro mais detonado do que já estava.  Ruas e praças abandonadas, lixo em todo canto, desordem urbana lojas fechando nas antes movimentadas ruas Nova e Imperatriz.  Além disso, não houve esforço nenhum para evitar a descaracterização de conjuntos arquitetônicos daquelas antes tão sofisticadas vias,cujos comerciantes costumam detonar o andar térreo de edifícios seculares.

Neste domingo, o Recentro ocupou a Avenida Guararapes, com o evento Viva a Guararapes, em uma ação semelhante aquela que ocorre no Recife Antigo, que era chamada de Recife do Coração.  É uma forma de chamar a atenção da população para uma área do centro que o recifense vinha esquecendo.  Segundo a Coordenadora do Recentro, Ana Paula Vilaça,  a festa deve ocorrer uma vez por mês. Esperamos que Vilaça tenha um cuidado maior com na nova função à frente do Recentro do que teve com o Recife Antigo, como Secretária de Turismo e Lazer da Prefeitura, quando roubaram 64 das 72 peças do Parque de Esculturas Francisco Brennand, em frente ao Marco Zero sem que as autoridades do município se dessem conta. Ou então, faziam que não viam.  A PCR só se mobilizou contra os furtos, quando o assunto virou escândalo nacional.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Hans Von Manteuffel/ Cortesia e Letícia Lins / #OxeRecife

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