Pensem em uma coisa bacana: caminhada com atitude. E, sendo inclusiva, melhor ainda. Foi o que fez o Grupo Caminhadas Culturais, no último domingo, quando proporcionou um passeio guiado pelo Bairro do Recife, reunindo 86 pessoas, sendo 53 com algum tipo de deficiência, entre cadeirantes (34) e surdos (19). Coordenador do Grupo, o engenheiro Stenberg Lima não sabia linguagem de libras, mas não faltaram voluntários para fazer o relato histórico e a descrição arquitetônica dos locais visitados. Foi uma festa! A concentração foi às 15h, no Marco Zero, com um roteiro e tanto.
“Pense em uma alegria ter feito esse evento, e ganhar um abraço de um cadeirante dizendo ‘você alegrou a minha vida’, e isso foi muito emocionante”, comemora ele, que foi o idealizador da excursão inclusiva. “Fiz esse a farei muitos outros passeios para eles”, afirmou Stenberg, que conheci no Grupo Andarapé, do qual o Caminhadas Culturais é um filhote. “Dediquei a caminhada a meu amigo Paulinho, cadeirante que estudou comigo desde a segunda série do colégio até a Faculdade”, conta. Infelizmente Paulinho não participou do evento, “porque já está no céu”, como costuma dizer o criador do passeio.
E o roteiro foi muito legal. Do próprio Marco Zero (antiga Praça Visconde de Rio Branco), foram descritos e/ou observados o Parque das Esculturas de Francisco Brennand, o dique de proteção do Porto do Recife, o farol, o antigo Forte de São Francisco. Os participantes ao local da antiga Ermida de Santelmo (protetor dos navegantes), sobre a qual foi erguida a Matriz do Corpo Santo, demolida no início do século passado, para melhoria do sistema viário. Também foram visitados: a antiga Rua do Bode, posterior Rua dos Judeus e atual Bom Jesus, na qual “o Recife nasceu”. Os participantes passaram pela Sinagoga Kahal Zur Israel (a mais antiga das Américas), pelo estátua do poeta Antônio Maria (que faz parte do Circuito da Poesia) e ainda tiveram informações sobre a evolução do bairro, desde o seu início.
Também esteve incluída no roteiro a Praça do Arsenal, com seu casario histórico, a Torre Malakoff, os painéis da campanha História nas Paredes, o prédio da Marinha, o Cais do Sertão, e outros locais interessantes do Bairro do Recife. O lema da caminhada foi “Incluir para não excluir”. Agora um recadinho para a Prefeitura. “O acesso para os cadeirantes na Rua do Bom Jesus não foi ruim, apesar de que, no restante do Recife, os pavimentos e as calçadas não são adequadas para aqueles que possuem problemas de mobilidade”. Stenberg afirma que haverá uma outra edição, dedicado a pessoas que não enxergam ou com baixa visão. Será um grupo só desse tipo, já que a áudio-discrição é bem diferente da linguagem de libras. Bacana, não é não? Sim, bom lembrar. A iniciativa teve apoio de voluntários de instituições como a ONG Deficientes Eficientes, o Conselho da Pessoa com Deficiência, Programa Pernambuco Acessível.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Hans Von Manteuffel/ Cortesia/ Caminhadas Culturais