Bora Preservar “viaja” pela história do Poço da Panela e do Rio Capibaribe

Com a flexibilização das medidas de segurança sanitária, muitos dos grupos que realizam caminhadas já retomaram a programação anterior à pandemia. Quem voltou às ruas, também, foi o Bora Preservar, que no final de semana realizou um passeio a pé pelo bucólico e histórico Poço da Panela,  com o cuidado de ressaltar a memória do bairro da Zona Norte, desde os tempos que era um engenho de açúcar.  Foi abordada, ainda,  a importância do Capibaribe na sua povoação (no século 18) e também como entrou no mapa das lutas libertárias contra a vergonhosa escravidão.

Grupo Bora Preservar encontrou-se na Praça de Casa Forte, para percorrer ruas e história do Poço da Panela.

Eu nem pude ir, pois estou precisando me poupar, já que torci o tornozelo mais uma vez, embora não o tenha fraturado no último acidente. Mas o meu ortopedista, meu querido e paciente Bruno Carvalho Nogueira (Clínica Ortho), recomendou não exagerar. Então, fiquei em casa. Mas quem foi, curtiu muito. Até porque o Poço tem muita história e algumas tradições seculares que perduram até os dias de hoje, apesar da indevida verticalização de suas ruas, felizmente agora sob controle depois da chamada Lei dos Doze Bairros, que impõe restrições a gabaritos onde até o final do século 20, o  céu era o limite, o que mudou nas primeiras décadas do novo milênio.

Como se sabe, o que é hoje o bairro do Poço era antes um vilarejo em terras do Engenho de Diogo Gonçalves, que foram doadas por Duarte Coelho. No século 18, o Recife foi atingido por uma epidemia do cólera. E as famílias abastadas foram aconselhadas a se instalar no Poço, para banhos nas águas “medicinais” do Rio Capibaribe (se fosse hoje, com a poluição que tomou conta do rio ….). Datam daquela época os casarões de veraneio que foram construídas pela aristocracia pernambucana, alguns que sobrevivem até hoje. Fala-se, inclusive, que foi naquele bairro onde se ouviu pela primeira vez um piano, o que teria ocorrido em 1810, durante as festas de Nossa Senhora da Saúde, evento religioso que acontece até os dias atuais com cenas muito semelhantes às descritas em livros que retratam o Poço do passado, como A Emparedada da Rua Nova (Carneiro Vilela) e Os Azevedos do Poço (Mário Sette). O Grupo Bora Preservar foi guiado por Denaldo Coelho e Emanoel Correia, com percurso bem interessante, saindo da Praça de Casa Forte, jardim histórico com a assinatura do paisagista Burle Marx.

Daí, os caminhantes seguiram pela Estrada Real do Poço, observando os casarões seculares. Estiveram na Rua Visconde de Araguaya, onde fica o antigo endereço do abolicionista José Mariano, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde e o ateliê de Jobson Figueiredo (onde além de suas obras, há um histórico sobre a presença dos Zeppelins em Pernambuco, pois o escultor é estudioso do assunto). No sítio da Igreja, é bom lembrar, fica a cacimba que deu origem ao nome do bairro, que  no passado enfrentou escassez de água para consumo doméstico, o que foi sanado com a descoberta de um olho d´água no terreno da Igreja. No local, havia sido colocado um panelão de barro para represar a água que fluía, surgindo daí o nome Poço da Panela.

Daí, o grupo seguiu pela Rua Antônio Vetrúvio, que era utilizado no passado por José Mariano para embarcar escravizados de bote para o Porto do Recife. De lá, eles os negros fugitivos viajavam para Fortaleza, que se antecipara à libertação dos escravos antes mesmo da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888.  A turma do Bora Preservar seguiu pela Marquês de Tamandaré, esteve no Jardim Secreto e ainda passou em outras vias interessantes do bairro, como a do Chacon, onde morou o escritor Ariano Suassuna. O percurso foi encerrado no Capibar, com doação de alimentos não perecíveis pra comunidades carentes da área, como as residentes no Cobocó.

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Texto:  Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins (Acervo #OxeRecife) e Grupo Bora Preservar / Divulgação

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