Bonecos gigantes: crise de identidade

Sinceramente, não sei porque os grandes veículos de comunicação permanecem tratando bonecos gigantes de forma indevida.  Todos, sem exceção – jornais, emissoras de rádio, Tvs abertas e por assinatura – insistem em enganar o público. Todos falam dos bonecos gigantes do Recife como se fossem de Olinda. E é preciso, urgentemente, acabar com essa crise de identidade. Será que é tão difícil noticiar a coisa certa?

Gente, o desfile que houve na segunda- feira nas ladeiras de Olinda com bonecos gigantes e alguns monstros – como o Incrível Hulk – nada mais são do que imitações, ou seja, bonecos genéricos, criados apenas com fins comerciais. Eles pertencem à Embaixada dos Bonecos, que fica no Bairro do Recife, e que teria um acervo de cerca de 400 “indivíduos”. A Embaixada foi criada em 2009 e seus idealizadores chegaram a requerer patente para explorar a marca Bonecos Gigantes de Olinda. Na época, a Prefeitura de Olinda não tomou nenhuma providência, por achar que não havia como se “roubar” a marca, já que os gigantes não têm marca, pois são do domínio público. Integram a cultura da cidade.

Sílvio Botelho é o “pai” dos verdadeiros bonecos de Olinda, mas está havendo confusão de identidade dos gigantes.

Os gigantes de Olinda, na realidade, possuem um pai conhecido em todo o país, que é Sílvio Botelho. Com mais de 3 mil “filhos” espalhados pelo Brasil e pelo exterior, ele cria personagens reais quando ligados à cultura de Pernambuco – Capiba, Ariano Suassuna, Maestro Spok, Nelson Ferreira – mas tem, também, uma série de personagens que povoam o imaginário da população do Recife e Olinda, como A Mulher do Dia, O Menino da Tarde, O Lorde de Olinda, Zeu das Olindas, entre outros. Historicamente, Sílvio Botelho faz seu desfile na terça-feira, quando leva nada menos de cem bonecos gigantes às ruas no último dia de carnaval, enchendo de magia o sítio histórico de Olinda. A chamada Apoteose dos Bonecos de Olinda ocorre há mais de três décadas, com concentração em Guadalupe, de onde sai o cortejo mágico, arrastando uma multidão de foliões. O desfile começa no final da manhã de hoje e termina no início da tarde.

A Embaixada dos Bonecos decidiu fazer a “apoteose dos bonecos de Olinda” há nove ano. E sempre na segunda-feira, um dia antes do desfile dos genuínos.  Os genéricos ocupam logo a mídia, com todo mundo noticiando o desfile dos “bonecos de Olinda”. Quando alguns de nós, pernambucanos, sabemos que não são. E os turistas, coitados, esses pensam que é tudo a mesma coisa. Por que, então, não se diz que na segunda-feira houve o desfile dos  gigantes da Embaixada dos Bonecos que fica no Recife e que, portanto, os bonecos não são de Olinda, mas do Recife? Custa nada aos repórteres e seus editores explicarem ao público que aqueles bonecos podem até usar indevidamente o nome de “bonecos de Olinda”, mas que são do Recife? Eu só queria saber porque isso é tão difícil de se esclarecer. Boneco do Recife é do Recife, e pronto. E de Olinda é de Olinda. E pronto também. Tanto quanto Zé Pereira e Vitalina são de Belém do São Francisco. Imaginem se o centenário casal sobe as ruas daquela cidade, e todo mundo diz “Bonecos de Olinda”. Não seria um blefe? Por favor, coleguinhas. Lembrem-se: boneco gigante, como as pessoas, possuem identidade. É só observar as fotografias publicadas em sites e jornais, para se perceber as diferenças. E não são poucas. Então, os de Olinda são de Olinda. Os do Recife, do Recife. E os de Belém do São Francisco, de Belém do São Francisco. E papo encerrado. O resto é preguiça de dizer a verdade. Ou desinformação mesmo. Que saco, todo ano se persiste nesse engano….

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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos:  Divulgação / Arquivo #OxeRecife

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