Há tempo não ia à praia de Boa Viagem. Tudo para evitar aglomeração, nesse período de pandemia. E também porque é complicado ir sem ter cadeira – o uso está proibido – pois não gosto deixar as coisas espalhadas na areia: óculos, protetor solar, livro, roupa, bolsa. Sei que o uso de cadeira está vetado, mas como fui bem cedinho achei que não teria problema. Mas hoje o sol estava tão maravilhoso e a água tão cristalina, que resolvi demorar um pouco mais. Fui “expulsa”…
Educadíssimo, um guarda municipal me lembrou que aos finais de semana e feriados, está proibida a presença de cadeiras de praia na areia assim como o comércio ambulante. Está correto, cumpre ordens. Na verdade, no pedaço em que eu estava só havia duas cadeiras. Uma era a minha. “A senhora desculpe, mas é o decreto. Se quiser ficar, a senhora deixa a cadeira dobrada no chão”. Preferi sair porque já estava no horário mesmo, 10h, antes que as areias lotassem de banhistas.
Antes do guarda, no entanto, um estranho me abordou, a menos de meio metro de distância. “Senhora, tem um minuto para mim?”. Eu respondi: “Tenho mas fique afastado. enquanto coloco a máscara”, pois tinha acabado de sair da água. O homem enfezou-se, saiu berrando que eu devia “ser mais humilde”. Na verdade, era um pinguço, que estava atrás de dinheiro para beber mais. Porém eu teria tido o mesmo comportamento com qualquer outra pessoa.
Até porque sei que o uso de máscara e o distanciamento social são importantes armas para se defender do contágio pelo coronavírus. E também sei que todo cuidado é pouco, ainda mais agora, que o contágio parece ter crescido, pois estamos batendo recordes de casos diários de Covid-19. Mas o que chama a atenção na praia, sem a presença de barraqueiros, são três fatos: ausência de poluição sonora, mais espaço na faixa de areia e, o mais importante, zero lixo. Sabemos que a venda na praia é ganha pão de muita gente. Mas sabemos, também, que mais de 70 por cento dos barraqueiros não têm zelo nenhum com a limpeza e que aos finais de tarde, se acumulam montanhas de lixo ao longo da praia.
Não são poucos os que acumulam detritos na areia, principalmente no paredão que fica entre a praia e o calçadão (garrafas PET, latas de cerveja, pratos com restos de comida, cascas de ostras, etc). Em alguns locais – com o descarte de espinhas e restos de peixe – o mosqueiro é grande. Seria muito bom que a Emlurb, a Vigilância Sanitária, a Secretaria do Meio Ambiente e a Semoc tomassem o momento como parâmetro para pensar meios de disciplinar e orientar os barraqueiros para o descarte correto do lixo na praia. E porque não transformá-los em agentes ambientais, para convencer os banhistas mal educados a zelar pela limpeza? Do mesmo jeito que pescadores se transformaram em guardiões do mar, protegendo algumas espécies marinhas – como o mero e peixe-boi – por que os ambulantes não podem se transformar em guardiões da areia? Não é difícil. Com boa vontade, método, criatividade e decisão política se chega lá. Caso contrário…. Veja o que acontece, no vídeo abaixo, mostrando como a praia estava limpinha nesse domingo, apesar da presença de banhistas:
Leia também:
Boa Viagem: areia e poucas máscaras
Cadê a fiscalização em Boa Viagem?
Boa Viagem: Distanciamento só cedinho
Foi preciso uma pandemia para controlar poluição sonora na praia
Pandemia: Governo proíbe festas e praias podem fechar de novo
Atentado estético no Primeiro Jardim em Boa Viagem
Sessão Recife Nostalgia: Boa Viagem, Casa Navio, Papa-Fila, picolé D´aqui
Boa Viagem em “trapos” para o verão
Quiosques de Boa Viagem tiveram 25 arrombamentos na pandemia
Abandonada na pandemia, Boa Viagem corre atrás do tempo perdido
Boa Viagem ao Deus dará
Boa Viagem é abandonada e quiosques são pilhados
Boa Viagem e nova normalidade: limpeza, silêncio e “paz”
Banho de mar e comércio nos quiosques são liberados
Isolamento deixa areia limpa e sem poluição
Liberadas atividades esportivas
Boa Viagem ainda deserta e sem direito a banho de mar
Boa Viagem abre amanhã mas sem direito a cadeira nem banho de mar
Cachoeira diverte em Boa Viagem
Boa Viagem tem “Xodó”
Boa Viagem: Asfalto agora tem “dono”
Boa Viagem ganha exposição de fotos
Boa Viagem tem língua negra
Boa Viagem tem esgoto na areia
“Me chama de lagartixa”
O medo do “tubarão” da areia
No feriadão, cuidado com o tubarão
Água no umbigo, sinal de perigo
Boa Viagem ou Bocagrande?
Sessão Recife Nostalgia: Boa Viagem, Casa Navio, Papa-Fila e picolé D´Aqui
Sessão Recife Nostalgia: Nos tempos do Veleiro
Comer lagosta ovada é não ter coração
Praia do Porto da Barra paraíso urbano
Viaje pelo Brasil Selvagem, Costa Brasileira sem sair de casa
Texto, fotos e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife
Excelente reportagem! Parabéns!