Andei lendo por aí – talvez em algum jornal local – leitores reclamando que o Natal nem chegou ainda, e as pessoas já estão discutindo carnaval. Mas carnaval é assim mesmo. Exige discussão, planejamento, orçamento, tudo. Ainda mais no Brasil, onde se carnavaliza a vida. Eu mesma adoro essa festa popular. E a do Recife – uma das mais democráticas que conheço – não troco pela de lugar nenhum. E nesse domingo (5), a gente pode sentir um gostinho dessa manifestação cultural tão diversa e efervescente. É que para assinalar o Dia do Frevo de Bloco – comemorado a 1 de outubro – agremiações tradicionais se reúnem a partir das 15h de amanhã, no Marco Zero. E, melhor: vai ter cortejo até a Praça do Arsenal, também no bairro do Recife Antigo. Com muito cavaquinho, banjo e bandolim.
Arrastão do Frevo, aliás, não é novidade no Recife, mesmo fora de época, já que é promovido mensalmente pelo Paço do Frevo. No domingo, a edição é especial, e será comandada pelo Coral Edgard Moraes. Vejam os blocos líricos que vão participar da festa: Bloco da Saudade, O Bonde Bloco Lírico, Bloco da Ilusões, Boêmios da Boa Vista, Damas e Foliões, Cordas e Retalhos, Flor da Lira do Recife e Batutas de São José. Tradição do nosso carnaval, o Frevo de Bloco é executado por uma orquestra de pau e corda, composta por instrumentos, como violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, violinos, além de instrumentos de sopro (flauta e clarinete) e de percussão (surdo, caixa e pandeiro).
O ritmo embala as agremiações, cujo aparecimento se relaciona a um importante dado histórico e sociológico: o início da efetiva participação das mulheres, principalmente de classe média, na folia de rua do Recife, nas primeiras décadas do século 20. O frevo – em suas diversas vertentes, incluindo o de bloco é considerado pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Há gerações, a tradição do frevo de bloco é cantada por nomes como Getúlio Cavalcante, Fred Monteiro e Elino Ramalho. Antes deles, esse frevo cadenciado, que evoca carnavais saudosos, contou com célebres defensores, como os irmãos Edgard Moraes e Raul Moraes, Capiba, Nelson Ferreira, João Santiago, Luiz Faustino e Romero Amorim. Já o Paço do Frevo é um espaço dedicado à difusão, pesquisa, lazer e formação sobre o frevo que se toca, que se dança e que se vive no Recife. E visa propagar sua prática e sua tradição para as futuras gerações. O Paço foi inaugurado em 2014, e é um equipamento público municipal.
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Serviço:
Arrastão do frevo
Data: Domingo, 5 de novembro
Horário: 15h
Local: Concentração na Praça do Marco Zero com destino ao Paço do Frevo
Entrada franca
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / PCR