Depois da pausa de fim de ano e do carnaval, o Movimento Marsenal – que faz teatro de resistência – está de volta. Mudou só o dia. Se antes os atores faziam seus espetáculos de rua às quintas, agora eles acontecem na sexta-feira. Só que no mesmo local: na Praça do Arsenal, em frente ao Bar e Teatro Mamulengo. O espetáculo da vez é o Cabaré do Bozó, já encenado. Mas os artistas que o apresentam asseguram: “o espetáculo está renovado, com novos escândalos, porque o humor é revolução”.
A apresentação não cobra ingresso fixo, mas ao final é passado o chapéu, para contribuições voluntárias, no melhor estilo teatro mambembe. Às 19h, tem microfone aberto, para quem quiser falar. Às 20, começa o Cabaré do Bozó. E às 21h, quem entra em cena é o DJ Joiado. O Cabaré do Bozó tem três atores em cena: Hugo Coutinho (camisa verde), Cláudio Ferrário (de branco) e Olga Ferrário (que segue os passos do pai, na vida artística). Cláudio Ferrário afirma que O Cabaré do Bozó é uma sátira à realidade vivida hoje no Brasil. “Por meio do humor, criticamos e ridicularizamos esse governo que está aí”.
Para o Cláudio Ferrário, um governo que “deve ser combatido e merece ser ridicularizado”. Ele acha que só com o riso mesmo, para suportar o que vem acontecendo no Brasil. “Um governo que está fazendo o país dar passos para trás, reacionário, homofóbico, fascista”, comenta. “E que está destruindo a Amazônia, as nações indígenas, as comunidades quilombolas e todas as conquistas sociais”, acrescenta Cláudio que, como ator, já participou de campanhas políticas históricas em Pernambuco.
Ou seja, o grupo faz teatro de protesto, de resistência, de engajamento político. “ A gente se utiliza da farsa para fazer crítica ao que está posto. E nossa intenção é despertar nas pessoas o desejo de lutar por nosso país e por um mundo sem fascismo”, diz. E conclui: “Enfim, queremos divertir e conscientizar as pessoas na base da brincadeira”. Brincadeira, claro, muito séria. Afinal, as garras da censura começam a inquietar os meios artísticos, cinema, teatro. Quem não se lembra do que aconteceu com a belíssima peça Abrazo, aqui no Recife?
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Movimento Marsenal