Nessa época de São João, os municípios nordestinos – principalmente os do interior – parecem que entram em uma disputa, para ver quem gasta mais. Ou seja, quem traz o artista com o cachê mais caro. No ano passado, o valor pago (R$ 500 mil) a Wesley Safadão pela Prefeitura de Caruaru rendeu polêmica em todas as redes sociais. O cantor terminou doando o cachê a uma instituição filantrópica. Caridade à parte, poucas pessoas entendem como as Prefeituras, em dificuldade para fechar as contas, gastam tanto dinheiro nessa época do ano.
Pois amiga aqui do #OxeRecife, que está em Portugal, nos envia fotos de Vila Nova de Famalicão, na região do Ninho. Não teve cantor famoso, nem palco gigantesco, nem som absurdo. Mas a população se divertiu, e muito. A festa em homenagem a Santo Antônio – padroeiro daquela cidade – começou na sexta-feira e vai até amanhã, 13. “Tem um desfile dos bairros, com pessoas vestidas com trajes típicos da época, como as nossas matutas”, conta a jornalista Conceição Campos, que está passando uma temporada em Portugal. “Eles mostram as danças típicas em ruas e praças”.
“Há desfiles, com todo mundo cantando pela cidade”, conta ela, em meio aos “bailaricos” – como chamam os portugueses – que ocorrem no meio da rua. Diz, no entanto, que ao contrário da canjica e da pamonha, os portugueses consomem muito o peixinho que a gente, aqui no Brasil, quase só vê em lata: a sardinha. “Nas barracas, o prato principal é a sardinha assada na brasa”, comenta. E pelo que se observa, a espiga também aparece lá, no Dia de Santo Antônio. “As sardinhas são consumidas com broas de milho”, diz. Mas há grande oferta, também, de caldo verde e vinhos.
Conceição conta que em Famalicão não tem palanque nem os mega shows com os quais as prefeituras daqui programam suas festas juninas. Em algumas cidades brasileiras, parece que o São João virou um carnaval. Tem até trio elétrico. Mas, acredito, não deve ser assim. Em Famalicão, pelo que se vê, gasta-se pouco, e próprio povo é o show, com desfiles em trajes e danças típicas pelas ruas.
Quase todos os bairros participam, preservando uma tradição que se repete a cada ano.“Enviei informações a você, porque sei que é fã de festas populares, vale a pena vir a Portugal nessa época”, diz a amiga. Conta, ainda, que amanhã tem procissão nas ruas da pequena cidade, com bandas de música e tudo. E que a festa é linda e animada, mesmo sem presença de cantores famosos que, como nós sabemos, cobram cachês milionários pagos com dinheiro público, para animar as festas do interior. São João, povo na rua, e autêntico forró, já resolvia tudo aqui por Pernambuco, gastando-se muito menos. #DevolvaMeuSãoJoão #OxeRecife
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Conceição Campos / Cortesia