É incrível a capacidade que o recifense tem, para desvalorizar o seu patrimônio. Seja natural, arquitetônico, ou mesmo cultural. No caso do arquitetônico, uma coisa que me intriga são os casarões antigos, que fazem da Capital uma cidade peculiar, mas cuja sobrevivência está cada dia mais ameaçada. E passam por reformas que não só deturpam como até mesmo escondem sua arquitetura, com o uso de materiais que ofendem nossa vista.
Por onde andei, hoje de manhã, constatei isso na Avenida 17 de Agosto, que corta boa parte da Zona Norte. As reformas modernizadoras terminam por tornar mais feia e por violentar a personalidade do Recife. Querem exemplo mais horrível do que as famigeradas placas de acrílico ou de alumínio nas fachadas? Alguns imóveis são muito bonitos e, no entanto, são escondidos por improvisação de comerciantes ou por orientação de arquitetos.
Há condomínios, também, que destroem tudo. Mas há outros – como o Vila Pasárgada (no Poço da Panela), o Mendo Sampaio (no Monteiro), o Margarida Renda Colonial e o Costa Azevedo (ambos na Avenida Rosa e Silva) – que preservaram casarões antigos. Mas há propietários e empreiteiros que não ligam para a memória da cidade. Tem absurdo maior do que ter sido derrubado o velho sobrado do século 19, onde funcionava a Padaria Capela, na Rua Amélia? Depois de meses vazio, o terreno virou estacionamento. Dava até revolta olhar a “ocupação”. Agora o terreno comporta farmácia, cujo prédio nada tem a ver com aquela relíquia do passado.
Na Avenida 17 de Agosto, pode-se observar as duas opções de uso de velhos casarões. Há salões de beleza, loja de artigos de festa, restaurantes, casas de festa que aproveitaram e até melhoraram casarões antigos. No mesmo lado, no entanto, observa-se as famigeradas fachadas modernizadoras. Sendo que em alguns estabelecimentos comerciais, as famigeradas placas de alumínio contribuem para esconder imóveis antigos e bonitos. A Prefeitura até que tentou dar um jeito, reduzindo o tamanho das placas que antes ocupavam fachadas inteiras. Mas a iniciativa não foi suficiente para evitar o excesso de abusos. Na Dezessete, no mesmo lado da rua, há imóveis inteiramente preservados e outros, totalmente modificados. Para pior, claro. Certo está meu amigo Jota Nogueira, que usa as redes sociais para chamar atenção para nossos velhos casarões com a hastag “Antes que suma”.
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife