Tem muita gente que reclama. E tem razão. Porque há muitos espetáculos por aí financiados com recursos públicos, que colocam preços exorbitantes em seus ingressos. Antes das apresentações, o público é brindado com a leitura de todos os patrocínios. E a gente fica indagando, então, porque pagou tão caro, se o meu, o seu, o nosso dinheiro ajudou a viabilizar a iniciativa. Por esse motivo, tiro o chapéu para a badalada e premiadíssima dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, que possuem um invejável currículo de sucessos e premiações nos palcos brasileiros. E que, com seus musicais, já reuniram plateias que chegam a mais de 3 milhões de pessoas.
No último sábado, eles brindaram o Recife com Milton Nascimento – Nada será como antes, o musical. Esquema organizadíssimo, no Cais da Alfândega, em frente ao Paço, com 2 mil cadeiras disponibilizadas de graça para o público. Tudo funcionando, luz, som, segurança, uma beleza. Ainda mais em noite de lua, com a brisa suave do Rio Capibaribe refrescando acariciando as nossas mentes e nossos corpos. O espetáculo não tem diálogos. Só música. Nada menos de 28 grandes sucessos da carreira de Milton Nascimento, que completou 70 anos em 2012. Desde então, a dupla tem levado o espetáculo a várias cidades, sendo quatro em Minas Gerais, terra do cantor e compositor.
Em 2016, Nada será como antes rodou por Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, , Belo Horizonte e Goiânia. E em 2017, cumpre a promessa de rodar por Fortaleza, Recife, Natal e Salvador. O musical é maravilhoso. Imperdível mesmo, e dividido em quatro quadros, correspondentes às estações do ano. Passeamos por Canção Amiga, Paisagem da Janela, Clube da Esquina, Raça, Maria Maria, Caicó Cantiga, Caçador de Mim, Coração da América, Sentinela, Travessia e, claro, Nada será como antes. O espetáculo tem um ritmo ótimo, lindos cenários, iluminação adequada e um time perfeito de cantores, que nem deixam a gente com vontade de que,ao invés deles, estivesse ali o próprio Milton Nascimento, em pessoa, cantado para a gente. Milton é divino, mas no palco é paradão. Ficaria deslocado no meio de tanto movimento para interpretação do seu repertório. Lindo. E o guarda roupa era um espetáculo à parte. Parabéns para Charles Möeller e Cláudio Botelho, em cujo exemplo, muita gente que trabalha na área devia se espelhar. E viva à democratização do teatro, mantida a qualidade.
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Texto e foto: Leticia Lins / #OxeRecife