Haja gente sem noção. E dessa vez não é no asfalto, mas no mar. O Ministério Público Federal de Pernambuco ajuizou ação penal contra cinco pescadores profissionais e o dono de uma embarcação pela pesca irregular de um Marlim Azul de 250 quilos. O proprietário do barco é dono de badalada pousada no Arquipélago de Fernando de Noronha, santuário ecológico localizado a 543 quilômetros do Recife.
O peixe está entre as espécies ameaçadas de extinção, e sua captura é proibida. Coitadinho: ele foi recolhido ao barco já morto, depois de quatro horas resistindo à sanha assassina dos seus algozes. Pensem em um sofrimento! O crime ambiental ocorreu em janeiro de 2017. E, desde então, o processo rola na Justiça. Pior: não tinha ninguém inocente ou desavisado nessa história. De acordo com os depoimentos dos envolvidos, tanto os pescadores quanto o proprietário da embarcação sabiam que a pesca do Marlim Azul é proibida. Ou seja, ganância maior que consciência.
A espécie consta de portaria do Ministério do Meio Ambiente como ameaçada de extinção e, portanto, deve ser preservada. Segundo norma da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, ao fisgar um animal desse tipo ainda vivo, deve ser feita a devolução imediata ao mar. Se já estiver morto, o peixe tem que ser doado a instituição beneficente ou científica. Conforme as apurações do MPF, os pescadores fisgaram o marlim ainda vivo no mar e fizeram contato com o proprietário da embarcação, José Maria Coelho Sultano, que garantiu o pagamento pelo pescado ilegalmente capturado. Foram feitas ainda fotos do peixe morto no porto de Noronha, quando a vítima foi exibida ao lado dos pescadores. Como um troféu!
O MPF propõe que os infratores façam um acordo com a justiça para compensar o crime ambiental. Mas em caso de reincidência, não haverá mais acordo. E aí, será a Justiça quem “fisgará”os pescadores. O MPF defende, ainda, que seja colocada placa no Porto de Fernando de Noronha com informações educativas sobre a proibição da pesca do Marlim Azul. Por mim, se escreveria assim: “Pescar marlim azul, jamais. É crime”. De acordo com o Processo nº 0818312-14.2018.4.05.8300T – 13ª Vara Federal em Pernambuco, o dono da embarcação é José Maria Coelho Sultano, também proprietário da badalada Pousada do Zé Maria, em Noronha, que é famosa pela fartura dos seus jantares, e por ser frequentada pela alta sociedade e artistas de cinema e TV. Além dele, respondem pelo crime ambiental os pescadores Igor Pio dos Anjos, Fábio Pio dos Anjos, Alexandre da Cruz, Marcos Vinícius Murta de Oliveira e Rafael Santos Nascimento. Todos, sem exceção, sabiam que capturar o ameaçado Marlin é crime. Se você consumir um Marlim Azul, vai sobrar remorso tão grave quanto se tivesse comido pedaços de baleia, tartaruga, golfinho ou peixe-boi. Percebe a gravidade do caso?
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Foto: Internet