Uma cena triste, aliás, tristíssima, acaba de ser presenciada por moradores da Zona Norte, na terça-feira. Esses crustáceos mortos, encontrados aos montes, estavam em manguezal do Rio Capibaribe, onde fica uma das esquinas da Rua Antônio Vitrúvio, uma das mais charmosas do Poço da Panela – bucólico bairro do Recife – e que chegou a ser utilizado como estação de veraneio por famílias abastadas do século passado. Dessa época, restaram alguns costumes, imponentes casarões e a nostalgia dos tempos em que as águas do Capibaribe eram recomendadas para banho, principalmente para aqueles que precisavam de algum tratamento de saúde.
Hoje o Capibaribe é uma massa de água negra e fétida. E embora seja que é tratado pela população e órgãos oficiais sem dó (cadê o saneamento?). Ali são jogados dejetos domésticos, animais, objetos de todos os tipos e até descartados, sem vida, animais que de lá vieram. E o que é pior: guaiamuns, que são animais ameaçados de extinção. E tanto é assim, que sua captura está legalmente proibida. A foto é de leitor residente no Poço da Panela, e uma das pessoas da comunidade que luta pela preservação do meio ambiente, inclusive ajudando na recuperação de um terreno degradado à margem do Capibaribe, hoje transformado no que a comunidade carinhosamente chama de Jardim Secreto.
![](https://oxerecife.com.br/wp-content/uploads/2018/10/guaiamum.jpg)
As pessoas costumam confundir siris, caranguejos e guaiamuns. Quando vi a foto, achei logo que eram guaiamuns, mas pedi a um biólogo da Agência Estadual do Meio Ambiente para me certificar. E eram. Os guaiamuns estão incluídos na Lista Nacional Oficial de Animais em Extinção, embora no exterior ainda sejam abundantes em algums regiões, como as praias da Flórida, nos Estados Unidos. No Recife, como em todo o Brasil, eles não podem ser caçados.
No Brasil, a população desses animais vem caindo drasticamente devido à pesca predatória, à poluição e à especulação imobiliária, que destrói os manguezais. Desde 2014, que há uma portaria nacional proibindo a captura de guaiamuns. Mas ela só começou a ser executada, de fato, em abril deste ano. Seu consumo já era proibido no período de defeso, como é, também o dos caranguejos. Estes, no entanto, têm a caça liberada em épocas fora do período de reprodução. A população do Poço não sabe se os crustáceos morreram devido à poluição do rio ou se foram jogados, já mortos, no meio do manguezal. Pela quantidade, a impressão que se tem é que houve um descarte único. O que não deixa, também, de ser um absurdo. Jogar bichos mortos no Capibaribe realmente é atitude de gente sem noção nem cidadania. E sem consciência ambiental.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Foto: Foto do Leitor/ Cortesia