A La Ursa Secreta e a Carnahorta

Passada a agitação do último sábado na Zona Norte – tomada por blocos imensos como A Turma da Jaqueira Segurando o Talo, os Barba e Pisando na Jaca – o domingo foi dia de carnaval muito especial, para comunidades do Poço da Panela e de Casa Amarela. Mais precisamente para o Jardim Secreto do Poço e a Horta Comunitária de Casa Amarela. Os dois espaços possuem uma história em comum: eram áreas degradadas e esquecidas pelo poder público, que foram recuperadas pelos moradores.

Agora, eles comemoram a transformação dos dois terrenos em espaços verdes e de convivência. Com os avanços promovidos pelos próprios residentes, tanto o Jardim Secreto do Poço quanto a Horta foram recebendo outras benfeitorias e até equipamentos urbanos. Uns com a ajuda da Prefeitura, outros da iniciativa privada. É natural, portanto, que tanto um quanto o outro tenha feito sua festinha de carnaval, cada qual ao seu jeito. Na Horta Comunitária de Casa Amarela, o tema foi “Põe Verde na Democracia”. No caso da La Ursa, não houve tema específico. Mas o espírito foi mesmo dos brincantes populares, pedir dinheiro. Mas para ser revertido para o Jardim Secreto. A La Ursa do Poço lembra mensagens ecológicas e a importância de cuidar do Jardim, pois até carregava flores sobre a “pelagem” branca. No verso do estandarte, um recado: “o futuro é coletivo”.

As duas festas foram no domingo. No Poço da Panela, a La Ursa Secreta concentrou-se no Jardim Secreto, ao final da Rua Marquês de Tamandaré, de onde saiu com batucada e pandeiro, arrastando uma boa multidão de crianças, pois no domingo pré carnaval geralmente há vários bloquinhos voltados para o público infantil no bairro, como o Panelinha de Pressão e o Bloquinho da Vila. Foi o ano três da La Ursa, que já é aguardada com expectativa do seu desfile, pelas ruas estreitas daquele que é um dos mais bucólicos e tradicionais bairros do Recife.

O final do desfile foi nos jardins da Vila Pasárgada, condomínio que fica vizinho ao Jardim Secreto. O Jardim Secreto do Poço, aliás, fica em um terreno de 3 mil metros quadrados, à margem do Capibaribe e para o qual dão os fundos de condomínios e casarões do bairro que, no passado, era estação de veraneio de usineiros e ricos comerciantes do Recife. O Jardim Secreto serviu não só para estreitar os laços da comunidade, como para aproximar as populações dos dois lados do rio, tornando mais estreitos os laços entre os moradores das duas margens, marcadas por profundas diferenças sociais.

Carnahorta terminou com orquestra tocando frevo entre os canteiros de ervas e fruteiras em Casa Amarela.

A história da Horta Comunitária de Casa Amarela é anterior à do Jardim Secreto do Poço. Ali entre a Rua Professor Souto Maior e a Avenida José dos Anjos há uma área, à beira do canal, que vivia entulhada de lixo, metralhas, e que servia até, muitas vezes, de esconderijo para marginais. Cansada de esperar pelo poder público, a população se mobilizou, começou a limpar a área, e a fazer plantio de ervas e fruteiras.

Posteriormente, o grupo ganhou apoio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, então comandada por Cida Pedrosa. Hoje à frente da Secretaria da Mulher, Cida marcou presença na festa de Casa Amarela, de onde só saiu à noite. Como o Jardim Secreto, a área ganhou ajuda oficial na limpeza e melhor iluminação. Posteriormente, vieram calçadas, parquinho infantil e tem até um ParCão, área isolada para os totós dos moradores. No domingo, a comunidade se reuniu para comemorar o carnaval, com a festa chamada Carnahorta, que terminou com orquestra de frevo circulando nos caminhos entre os canteiros. Este ano, o lema da festa foi “Põe verde na democracia”.

Texto: Letícia Lins / #OxeReife
Fotos: Henrique Santos (Jardim Secreto) e Luciana Raposo (Carnahorta) / Cortesia

A La Ursa Secreta e a Carnahorta

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